Baixar - Proppi - UFF
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Na estreia, foram citadas as palavras da autora Glória Peres: “Nós temos de<br />
dizer não ao preconceito, parar de alimentar essa ignorância, mostrando pessoas<br />
comuns… terrorismo há em todos os países e entre todos os povos, e os<br />
muçulmanos são pessoas como nós”. Apenas de tais pretensões, O Clone desencadeou<br />
uma febre de consumo de produtos culturais ‘do Oriente Médio’.<br />
(Karam 2007:34-5)<br />
Assim, apesar da programação de levar a novela ao ar ser anterior aos eventos de setembro<br />
de 2001, o que seria já por si só um elemento transformador na imagem e visibilidade<br />
da comunidade muçulmana na sociedade brasileira, o 11 de setembro potencializa esses efeitos,<br />
exatamente pelo contexto de crise. Ao fim e ao cabo, problemas de demonstração de ódio<br />
ou intolerância dirigidos aos muçulmanos no Brasil têm sido raros e, à época, qualquer possível<br />
tendência nesse sentido foi minimizada pela novela. Eis que, portanto, o Islã não participa<br />
mais do campo religioso brasileiro como minoria invisível.<br />
Retomando o argumento de Montenegro, afirma ela que “um dos outros mais presentes<br />
para esse Islam talvez seja intrínseco a sua própria tradição religiosa.” Mas considera também<br />
a importância de se perceber “certas ‘anticaracterísticas’ que o grupo teria em relação a<br />
um suposto substrato da religiosidade brasileira.” (Montenegro 2000:54). A respeito dessas<br />
‘anticaracterísticas’, refere-se a autora à dificuldade de se pensar o enquadramento do Islã na<br />
realidade brasileira a partir de alguns modelos propostos por outros estudiosos da religião no<br />
Brasil, que procuram apontar um ‘mínimo denominador religioso comum’ no quadro nacional<br />
(Negrão 1997), exatamente porque o Islã, no seu forte exclusivismo e anti ecumenismo, não<br />
partilha dos denominadores apontados (Montenegro 2000:62-3) – assim suas ‘anticaracterísticas’.<br />
A respeito do diálogo interno entre as tradições religiosas islâmicas, que a autora a-<br />
ponta como as mais pronunciadas, no entanto, parece-me que, partindo das observações das<br />
aulas de religião, o posicionamento mais destacado é frente ao cristianismo, tradição religiosa<br />
dominante da sociedade brasileira e não com o xiismo, por exemplo. Considere-se, nesse caso,<br />
que o maior público frequentador é de não muçulmanos cristãos, católicos e evangélicos.<br />
Montenegro menciona a escassa referência a outras denominações religiosas como compondo<br />
o quadro de debate da SBMRJ, mas é exatamente a referência a outras denominações que<br />
acredito definir essa dinâmica de abertura para fora. Isto não significa que o xiismo e o sufismo,<br />
as duas maiores vertentes do Islã além do Sunismo – dominante na SBMRJ –, não sejam<br />
mencionados. O sufismo mesmo será alvo de contundentes críticas. Mas a própria organiza-<br />
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