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acionalista no interior do Islã, movimento que será fundamental neste trabalho uma vez que<br />

informa as correntes de pensamento e interpretações da própria comunidade muçulmana sunita<br />

carioca – o salafismo. O salafismo irá mais uma vez enfatizar a importância da literalidade<br />

da interpretação corânica para a consumação da verdade revelação divina, mas o fará numa<br />

chave bastante diferente das apontadas acima, já que a literalidade será exatamente aquilo que<br />

permite conciliar a verdade de Deus, a verdade do conhecimento científico e a perenidade e<br />

generalidade da racionalidade, em Deus e em Suas obras. Um histórico mais detalhado do<br />

salafismo será apresentado no capítulo 3.<br />

…<br />

Grupos ‘religiosos’ e materialistas, racionalistas ou ateus, ou os três simultaneamente, vem se<br />

tornando mais comuns nos dias de hoje. No contexto histórico brasileiro, por exemplo, há os<br />

casos exemplares racionalistas do espiritismo kardecista 21 e o racionalismo cristão 22 . O ateísmo<br />

aqui deve ser entendido em continuidade com o racionalismo, de modo a ser concebido<br />

como uma extração necessária dos elementos básicos de uma filosofia racionalista e, em último<br />

caso, cientificista 23 . Aqui é o ponto onde posso iniciar uma conexão com os meus atuais<br />

interesses em produção e transmissão de conhecimento religioso. O elemento chave é a ciência.<br />

A centralidade metafísica da ciência nos debates contemporâneos é imensa. Os trabalhos<br />

de teólogos como John Haught (2000), que buscam reinterpretar sistemas teológicos a partir<br />

de modelos explicativos fornecidos pela ciência; ou Ian G. Barbour (Barbour 2000) mostram<br />

até que ponto a própria religião parece admitir e incorporar o discurso científico. O que se<br />

assiste nos dias de hoje não é mais uma disputa pelo domínio do real, mas uma tentativa, por<br />

parte da religião de conciliar com a ciência, enquanto esta ou se mantém alheia, em alguma<br />

medida, aos esforços da religião, ou busca lhe desqualificar por completo.<br />

…<br />

21 Ambos os casos são exemplos de religiões racionalistas, cientificistas. No caso do espiritismo, é evidente que<br />

não cabem os predicados ‘materialista’ e ‘ateu’.<br />

22 A própria história do racionalismo cristão é reveladora e extremamente significativa. O Racionalismo Cristão<br />

se pretende uma codificação racional e científica de Jesus Cristo, mas depurada do ranço teológico religioso. Sua<br />

origem está ligada a um constante debate e diferenciação do kardecismo, acusado de ser místico e supersticioso<br />

(Mattos 1991). Para uma história do kardecismo no Brasil, ver o belo trabalho de Emerson Giumbelli (Giumbelli<br />

1997). Seu livro é particularmente interessante no que se refere à perseguição de que foi alvo o espiritismo<br />

kardecista por parte dos aparelhos repressores estatais, sob a acusação de charlatanismo e prática ilegal da<br />

medicina.<br />

23 Para uma história do ateísmo no desdobramento do Iluminismo, em sua gênese pré-Diderot, ver Piva (2006).<br />

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