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Baixar - Proppi - UFF

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nhecimento como um conjunto de meios através dos quais homens e mulheres refletem, agem<br />

e interagem entre si, sobre e no mundo. Todo conjunto de conhecimentos contará com três<br />

aspectos: asserções e ideias sobre o mundo; meios nos quais tais asserções se instanciam e são<br />

comunicadas, assim como um conjunto de representações a respeito desses meios e dos processos<br />

de comunicação; relações sociais por meio das quais esse conhecimento se põe em<br />

movimento. Uma das postulações de Barth mais importante para este trabalho é aquela que<br />

afirma que essa dinâmica do conhecimento envolve micro-circunstâncias de formação, construção,<br />

modificação e transmissão, de modo que tudo pode ser um enunciado relevante. Em<br />

uma mesquita, o sermão proferido do alto do minbar pode ser tão relevante quanto a conversa<br />

pequena entre as orações, o discurso formal e preocupado frente a uma câmera de TV, confissões<br />

e atos-falhos. A questão importante é descobrir os critérios de validade desses discursos,<br />

e analisar a trajetória do conhecimento por eles expressos. Afirma (Barth 2002:6 60 ): “Nossa<br />

análise se torna mais esclarecedora se estivermos aptos a identificar os processos proeminentes<br />

de produção, reprodução e uso do conhecimento que se realizam e moldam as formas de<br />

conhecimento.” Assim, o quão variável são os ramos do conhecimento em questão, seus graus<br />

de precisão, coerência e estabilidade, padronização e compartilhamento são perguntas pertinentes<br />

no processo de transmissão do conhecimento. Onde tais conhecimentos estão objetificados?<br />

Minha exposição etnográfica irá tratar exatamente de expor um quadro onde se possa<br />

dar respostas etnograficamente localizadas para tais questões.<br />

Devo mencionar, no entanto, que meu esforço de compreensão desse processo de produção<br />

de um sistema de ideias que busca dar coerência às postulações de afinidade entre o<br />

sistema divino revelado corânico e o sistema histórico constituído da ciência não irá jamais<br />

buscar mensurar o quanto de verdade ou validade há nesse discurso. A coerência é interna.<br />

Isto não significa um ‘anything goes’. Exatamente porque são discursos, tais conhecimentos<br />

referem-se mutuamente, estabelecem relações e sua importância antropológica está nesse contexto<br />

político-epistemológico-religioso (Asad 1986). Além do mais, muito mais importante do<br />

que se colocar qualquer pergunta que diga respeito à real possibilidade do Islã ser efetivamente<br />

coerente com a ciência moderna, é se perguntar sobre que tipo de uso e propósito tal produção<br />

de conhecimento tem. No caso que analiso, há claramente o propósito de debater com a<br />

ciência, mas há também efeitos mais amplos – funções morais, estéticas.<br />

Um outro aspecto para o qual Barth traz luz é aquele que diz respeito às figuras humanas<br />

nesse processo de transação do conhecimento. Retomando suas experiências de campo<br />

60 No original: “Our analysis becomes more illuminating if we are able to identify the salient processes of production,<br />

reproduction, and use of knowledge that take place and shape the forms of knowledge.”<br />

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