Baixar - Proppi - UFF
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pretende desempenhar o papel ontológico que antes era delegado à religião. A centralidade da<br />
ciência pode chegar mesmo ao próprio discurso teológico (Barbour 2000; Haught 1984; 1995;<br />
2000; 2001).<br />
Eis o que me parece permitir um bom entendimento acerca dos constantes ataques que<br />
intelectuais, acadêmicos em geral – dos mais variados naipes e áreas de estudo – vem direcionando<br />
à religião. A participação de autores como Richard Dawkins, Daniel Dennet, Michael<br />
Shermer, Marcelo Gleiser, Carl Sagan no cenário mais amplo de público das obras de divulgação<br />
científica; casos como o surgimento do Movimento Bright 17 ; da popularização de figuras<br />
como James Randi e o seu instigante “One Million Dollar Paranormal Challenge”, dos<br />
ilusionistas Penn & Teller, são exemplos de como vem se configurando o ataque ao<br />
pensamento religioso, místico, sobrenatural, e portanto falso, que se faria presente em todas as<br />
religiões.<br />
Não se pode deixar de fora do escopo dessa reflexão o fato de que o surgimento de<br />
figuras como Carl Sagan, ainda nos anos 1970, com programas de televisão dirigidos para o<br />
ataque ao pensamento religioso, é por sua vez uma reação ao levante religioso na sociedade<br />
americana dos anos 1960, dentro da contracultura, com o fortalecimento dos debates na<br />
sociedade civil envolvendo, por exemplo, teses criacionistas e evolucionistas acerca da<br />
origem da vida. De todo modo, a reação cética, ateísta, materialista e científicista já aponta<br />
para a dialética ‘ciênciaXreligião’, que particularmente interessa ao presente trabalho.<br />
…<br />
O projeto inicial de minha pesquisa de mestrado era investigar esse conjunto de questões que<br />
envolvem modernidade, ciência, religião, racionalidade, misticismo, crendices, ontologias.<br />
Era preciso, portanto, encontrar uma referência etnográfica que me permitisse desenvolver<br />
essas questões, um grupo religioso que tornasse relevante a discussão sobre tais questões. Em<br />
primeiro lugar, não bastava encontrar um grupo de pessoas que servisse apenas como justificativa<br />
e exemplificação das discussões que me interessava fazer – significativamente, trabalhos<br />
dessa natureza não são raros no cenário acadêmico contemporâneo, e não só nos estudos<br />
de religião. O ponto de partida era esse conjunto de questões, mas o importante era ver<br />
17 O Movimento Bright é uma iniciativa de Paul Geisert e Mynga Futrell, intelectuais americanos envolvidos<br />
com o debate acerca da liberdade de pensamento e independência religiosa, cujo objeto inicial foi propor uma<br />
denominação adequada aos que não compartilham de uma visão de mundo que esteja marcada pelo sobrenatural.<br />
Como afirmam, um bright é uma pessoa que possui visão naturalista do mundo, livre de elementos sobrenaturais,<br />
cuja ética e ação está baseada em sua visão naturalista do mundo. Trata-se de evitar termos negativos como ateu,<br />
cético, infiel, irreligioso. Para mais, ver http://www.the-brights.net/<br />
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