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tiveram nas Américas antes de Cristovão Colombo. 6<br />

Outro indício da perenidade da presença muçulmana no Brasil seria aquele do Islã negro,<br />

provindo dos escravos negros islamizados, trazidos ao Brasil no contexto da escravidão e<br />

comércio escravo 7 . Sua importância estaria objetificada na conhecida Revolta dos Malês, como<br />

eram conhecidos os escravos muçulmanos 8 . A revolta tomou lugar na Bahia de 1835, tem<br />

grande valor histórico como movimento de resistência de cunho religioso (Reis 1986). Alberto<br />

da Costa Silva (2004) relata a circulação de alcorões na cidade do Rio de Janeiro, sua comercialização<br />

e os meios pelos quais os muçulmanos negros conseguiam obtê-los. Como a-<br />

ponta Paulo Pinto (2010b:203), nesse contexto os livros sagrados do Islã funcionavam muito<br />

mais como objetos sagrados, dotados de poder místico, simbolizando o pertencimento à comunidade<br />

e erudição religiosa. As comunidades negras muçulmanas no Brasil mantinham<br />

contato entre si, o que é atestado pela presença de um imam (líder religioso) de formação religiosa<br />

damascena e origem familiar iraquiana, que atraca no Rio de Janeiro em 1866 em navio<br />

de bandeira otomana e fica no país por três anos, seguindo do Rio para Bahia e, a pedido, para<br />

Recife, depois de liderar as duas primeiras comunidades. Sua volta ao Império Otomano é<br />

seguida da publicação de um interessante relato dessa estada na América do Sul (al-Baghdadi<br />

al-Dimachqi 2007; Pinto 2010a:34,46)<br />

O declínio desse Islã negro ocorre em fins do século XIX, com o fim da escravidão, do<br />

comércio negreiro e a interrupção dos contatos constantes com a África. Em sua estrutura<br />

básica, os relatos históricos moldam a narrativa da comunidade a respeito desse passado, de<br />

modo que estes estão amplamente dotados de relevância e plausibilidade histórica, podendose<br />

destacar a diferença de ênfase e importância atribuída a eles pelos muçulmanos.<br />

O terceiro momento descontínuo da presença do Islã no Brasil é aquele que começa<br />

com os fluxos migratórios do Oriente Médio.<br />

Imigração e seus motivos<br />

A respeito desses relatos do terceiro momento, Pinto (2010a) indica que a influência europeia<br />

6 Alguns elementos são descobertas arqueológicas de mesquitas e inscrições arábicas pré-colombianas; o mapa<br />

de Piri Reis, navegador muçulmano; referências aos ‘maometanos’ no diário de bordo de Colombo, entre outros.<br />

Essas referências podem ser localizadas no link indicado acima.<br />

7 O texto de Haidar Abu Talib, disponível no link indicado acima, afirma: “Ao contrário do que muitos<br />

imaginam, os muçulmanos chegaram ao Brasil bem antes das insurreições populares, que ficaram conhecidas<br />

como as Revoltas ou Guerras dos Malês, ocorridas na Bahia, no século passado.”<br />

8 Novamente Talib: “Os ideais dos Malês distanciavam em muito daquilo que é imaginado, quando se diz que foi<br />

uma luta religiosa e racial, buscando simplesmente o fim da escravidão. Os Malês, tidos por vários escritores<br />

como "muçulmanos ortodoxos", acreditavam na Mensagem revelada ao Profeta Muhammad, o Mensageiro de<br />

Deus, que a paz e as bênçãos de Deus estejam com ele.”<br />

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