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Baixar - Proppi - UFF

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de questões, como a identidade da comunidade muçulmana, seu posicionamento frente à sociedade<br />

mais ampla, relações de poder, hierarquias, ‘revertidos’ 1 .<br />

1.2 – Como cheguei à mesquita? Entrada no campo e método de pesquisa<br />

O início de minha pesquisa na comunidade muçulmana sunita carioca foi resultado de um<br />

conjunto de mediações entre meus interesses teóricos e de pesquisa, algumas dificuldades<br />

com a atividade de pesquisa de campo, os interesses de meu orientador e seus canais viabilizadores<br />

para uma pesquisa de mestrado. A respeito das dificuldades com uma primeira pesquisa<br />

que iniciei no âmbito do mestrado em antropologia, reflito mais à frente. Neste momento<br />

quero refletir sobre a pesquisa na comunidade muçulmana propriamente.<br />

…<br />

Cheguei à mesquita pela primeira vez em 2 de março de 2010, uma terça-feira, no início da<br />

noite. O contato com um dos membros da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro,<br />

ora adiante SBMRJ, organização que administra a mesquita, foi propiciado pelo professor<br />

Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto, meu orientador durante todo o mestrado. Após uma<br />

ligação telefônica, contatei Sami Isbelle 2 em Florianópolis, que estava em retiro coletivo com<br />

a comunidade por conta das festividades de carnaval do Rio de Janeiro, das quais em geral a<br />

comunidade muçulmana não participa. Muito gentil, combinou a data, hora e local para nos<br />

conhecermos, e desde o início mostrou generosidade e disposição. O ambiente que encontrei<br />

1 Tal como formulado pela comunidade carioca, o termo ‘revertido’ é preferido para referir-se aos novos adeptos<br />

do Islã. ‘Reversão’, e não ‘conversão’, porque, segundo a comunidade muçulmana sunita carioca, todo ser<br />

humano nasce ‘muçulmano’ (muslim – ‘submisso à vontade de Deus’). Ao ser criado em família de não<br />

muçulmanos, por exemplo, o ser humano desvia-se de sua condição original, de modo que qualquer adesão<br />

futura ao Islã será sempre um retorno, um re-começo. Isto está profundamente articulado com os predicados do<br />

Islã que derivam da codificação racionalizante. A adesão ao Islã e sua prática cotidiana é fácil, simples, porque o<br />

Islã é a condição original do homem.<br />

2 Não faço uso de qualquer codinome ou apelido para referir-me aos membros da comunidade muçulmana. Os<br />

nomes mencionados aqui são reais, referem-se a pessoas reais, que fazem, dizem e pensam coisas reais. Minha<br />

opção foi a de não procurar esconder pessoas e discursos. Em geral essa estratégia de usar nomes falsos tem a<br />

louvável intenção de proteger os interlocutores da pesquisa de eventuais constrangimentos futuros advindos do<br />

confrontamento de posições discordantes em determinados assuntos, ou a manifestação de opiniões particulares<br />

a respeito de outrem que, expostas de forma circunstanciada, muitas vezes em regime de segredo ao etnógrafo,<br />

podem ser a origem de conflitos. Minha posição aqui é a de que não há nada a preservar, em primeiro lugar<br />

porque não trato de um conjunto de questões polêmicas, que envolvam conflitos e desafetos internos ou mais<br />

amplos em relação à comunidade. Ao contrário, parte do conjunto de problemas que abordo aqui é exatamente a<br />

publicização, comunicação, divulgação de uma interpretação da comunidade a respeito de sua crença. Em<br />

seguida, por isso mesmo, não acredito que meus interlocutores na comunidade carioca consideram essa<br />

possibilidade, ou mesmo gostariam de ver camufladas suas posições a respeito das questões que abordo aqui.<br />

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