Baixar - Proppi - UFF
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crendice, ao fanatismo, a mistificação, o ocultismo, ao irracional (Raël 2003:25 19 ). Em resumo,<br />
Raël elabora uma crítica racionalista à doutrina judaico-cristã, a qual acusa de ter mascarado<br />
a verdadeira mensagem – que, nesse discurso, não é de Deus! – por conta de atributos<br />
menores que precisam ser superados – misticismo, fetichismo, maravilhamento, magicismo<br />
intelectual... A mensagem original pode ser resgatada na letra dos evangelhos, mas devendo<br />
ser corrigida onde a irracionalidade do homem a modificou. Essa irracionalidade é propriamente<br />
religiosa, na medida em que se reconhece historicamente esse atributo como sendo<br />
componente das formas religiosas conhecidas. Ainda assim, o movimento raeliano se autodenomina<br />
um movimento religioso, na medida em que é uma ontologia, um sistema filosófico<br />
que constitui um conjunto de conceitos em ordem de modo a permitir a extração de valores<br />
morais, regras de conduta, mas também experiências subjetivas, fruição estética, organização<br />
do self. É uma religião, mas seus membros são ateus convictos, materialistas e racionalistas<br />
extremados. Ao recusarem qualquer conceito sobrenatural de divindade, força, energia mística,<br />
podem afirmar categoricamente: “Science is our religion!” 20 . Ateus e, absolutely not least,<br />
religiosos. Pode-se até enquadrar mais precisamente essa proposta, pois assim eles o fazem:<br />
‘design inteligente’ para ateus.<br />
…<br />
O Islã também possui sua história de racionalismo filosófico e religioso. Albert Hourani menciona<br />
o surgimento, desde os primórdios do Islã, de uma concepção da atividade de busca do<br />
conhecimento religioso como integrando a sua vida religiosa, de modo a dar ensejo ao surgimento<br />
de figuras centradas no controle e manejo desse conhecimento, as autoridades religiosas,<br />
os ulemás (forma plural, alim no singular) (Hourani 2006:92ss).<br />
A valorização da atividade de busca do conhecimento atrai a presença da filosofia grega<br />
no pensamento islâmico desde seus primeiros séculos. Diversas escolas de pensamento<br />
islâmico surgem a partir do estudo, diálogo e desenvolvimento do pensamento grego, orientados<br />
por questões próprias, um “movimento de pensamento que começou cedo, uma tentativa<br />
de assimilar no árabe a tradição de ciência e de filosofia grega; ou pode dizer-se, de continuar<br />
e desenvolver essa tradição por meio do veículo da língua árabe” (Hourani 2006:111). Pen-<br />
19 “Agora peço-lhe que pegue na Bíblia onde poderá encontrar os traços da verdade, que evidentemente foram<br />
um pouco deformados pelos copiadores, que não conseguiam conceber tecnologicamente tais coisas, atribuindoas<br />
ao místico e ao sobrenatural.”<br />
20 Conferir o inteligente trabalho de Palmer (2004) sobre os raelianos, em especial o cap. 9 para a portentosa<br />
afirmação. Ver também Machado (2006), para uma discussão sobre os raelianos no Rio de Janeiro.<br />
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