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concluir: “Ciência evidentemente não existe em qualquer comunidade não civilizada como<br />

força condutora, crítica, renovadora, construtora. Ciência jamais é conscientemente feita.<br />

Mas, a se partir desse critério, também não há lei, religião ou governo entre os selvagens.”<br />

(Malinowski 1955:35) 48<br />

A ciência se mantém na esfera profana da vida, com relações entre meios e fins muito<br />

claramente definidas. No entanto a magia, que também mantém uma relação direta de meios e<br />

fins, com objetivos práticos, embora na esfera sagrada da vida, tem origem exatamente quando<br />

o controle e a eficácia tecnológica terminam e faz-se necessário acionar dimensões suprassensíveis<br />

e incognoscíveis. A análise de Malinowski mostra como o funcionamento da magia<br />

se dá por palavras e atos, pela fala e manipulação de objetos, numa lógica de uso de múltiplos<br />

meios de ação do ritual. De acordo com a exposição de Tambiah (1985;1990), Malinowski<br />

antecipa mesmo as teorias de John Austin dos ‘atos de fala’ e Kenneth Burke e a retórica dos<br />

motivos. Um dos méritos da análise de Malinowski é exatamente mostrar o jogo de separação<br />

e enlace entre atos mágicos e as atividades técnicas, a convergência entre ciência e magia na<br />

agricultura, na pesca e demais esferas da vida.<br />

Mas, se magia e ciência se definem por relações práticas com a realidade, ainda que<br />

interagindo com esferas distintas dessa realidade, a religião define-se exatamente por ser um<br />

fim em si mesma, dividida entre a Providência, a interferência divina na realidade, e a Imortalidade,<br />

a vida após a morte, uma outra vida em sequência a esta. Ritos religiosos buscam manutenção<br />

da tradição, da fé, como nos ritos de iniciação, ao passo que ritos mágicos, como os<br />

de nascimento, buscam resultados práticos, nesse caso, saúde e bom desenvolvimento da criança.<br />

A grande questão malinowskiana, ao fim e ao cabo, é a de saber como o homem participa<br />

dessa dualidade dos modos do real, sagrado e profano, como se muda de um estado para<br />

entender-se um corpo de regras e concepções, baseados na experiência e derivado dela por inferência lógica,<br />

corporificada em conquistas materiais e em uma forma tradicional estável, e mantida por alguma forma de<br />

organização social – então não há dúvida que, mesmo a mais baixa comunidade selvagem possui os primórdios<br />

da ciência, ainda que rudimentar.<br />

A maioria dos epistemólogos não estaria satisfeito com tal definição mínima da ciência, por poder ela ser<br />

aplicada a toda e qualquer sorte de arte ou ofício.” (Malinowski 1955:34)<br />

No original: “Can we regard primitive knowledge, which, as we found, is both empirical and rational, as a rudimentary<br />

stage of science, or is it not at all related to it? If by science be understood a body of rules and conceptions,<br />

based on experience and derived from it by logical inference, embodied in material achievements and in a<br />

fixed form of tradition and carried on by some sort of social organization – then there is no doubt that even the<br />

lowest savage communities have the beginnings of science, however rudimentary.<br />

Most epistemologists would not, however, be satisfied with such a ‘minimum definition’ of science, for it might<br />

apply to the rules of an art or craft as well.”<br />

48 No original: “Science, of course, does not exist in any uncivilized community as a driving power, criticizing,<br />

renewing, constructing. Science is never consciously made. But on this criterion, neither is there law, nor religion,<br />

nor government among savages.”<br />

47

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