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Baixar - Proppi - UFF

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compõem as aulas já foram explicitados e discutidos no capítulo 2, de modo que não os retomo<br />

aqui.<br />

A aula tem uma configuração flexível, com aberturas a perguntas, intervenção e participação<br />

direta dos alunos com questionamentos e debates que podem mesmo não se resolver –<br />

como é o caso da discussão que mencionei no capítulo dois a respeito do castigo do túmulo<br />

previsto no Islã. Essa configuração era possível porque se parte, na comunidade, de uma posição<br />

preocupada com a tolerância frente a outras denominações religiosas que frequentam as<br />

aulas, pois, como mostrei, são essas denominações a maioria da frequência da aula. Aqui minha<br />

preocupação não é tanto reapresentar a codificação doutrinal religiosa, uma vez que ela já<br />

foi trabalhada quando abordei os panfletos e outras publicações, como os livros. Minha percepção<br />

é de que há uma continuidade entre esses meios de codificação, pois partem de uma<br />

mesma posição, um mesmo conjunto de interpretações, e são veiculados pelas mesmas instituições<br />

– e pela análise desenvolvida, convergem em suas conclusões, de que o Islã é conciliável<br />

com a ciência e a razão. O livro que conduz as aulas de religião é o já mencionado “Islam,<br />

sua crença e sua prática”, de Sami Isbelle. A aula funciona em torno do livro de forma muito<br />

estreita e conectada, funcionando o livro mesmo como um roteiro para as aulas. O texto escrito<br />

é estável, esquemático, racionalizado, organiza o pensamento de forma específica, o que a<br />

oralidade não garante (Goody 1988). Os temas são expostos na mesma ordem, com os mesmos<br />

argumentos e percursos da parte de Sami Isbelle. O que pretendo marcar como importante<br />

aqui é a oralidade que se faz presente e o que ela introduz na transmissão do conhecimento.<br />

Em uma etnografia das universidades públicas realizada na década de 1990, a oralidade<br />

foi apontada como prática predominante na academia brasileira (Pinto 1999). Analisando<br />

um contexto de transmissão de conhecimento em que texto e fala estão articulados, o trabalho<br />

do professor Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto procura mostrar como na dinâmica da sala de<br />

aula a oralidade tende a ser o mecanismo mais eficaz, em que se considere a importância atribuída<br />

à leitura no universo acadêmico de um modo geral. Na comunidade sunita carioca, as<br />

aulas de árabe e religião servem precisamente como verificadores do conhecimento escrito<br />

(Chagas 2006:99) – para aqueles que tiveram acesso ao texto, e como fonte única para os demais.<br />

Em geral a leitura é mais praticada pelos adeptos. De todo modo, quero enfatizar o ‘perigo’<br />

que a oralidade apresenta em uma aula pensada e organizada completamente a partir do<br />

livro.<br />

Uma vez que é garantido ao aluno o direito de fala, a aula ganha uma grande quantida-<br />

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