Baixar - Proppi - UFF
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madan, que em 2010 ocorreu entre os meses de agosto e setembro. Frequentei a mesquita nos<br />
fins de tarde para acompanhar a quebra diária do jejum, o iftar, uma oração e um jantar coletivo.<br />
Comprei diversos livros, camisas temáticas, manuais de língua árabe, tapetes de oração e<br />
outras coisas vendidas no bazar que funciona na mesquita nas manhãs de sexta-feira, antes e<br />
depois da oração coletiva. Paguei voluntariamente o zakat (dízimo, tributo religioso) no Ramadan.<br />
Aprendi os nomes de objetos, ações, ditos e rezas. Esqueci todos e pedi que fosse repetido<br />
cada nome, quase infinitamente. Aprendi a usar o cumprimento básico “Assalamu A-<br />
leikum” e sua forma invertido como resposta “Waleikum Salam”. O objetivo claro e evidente<br />
era levantar dados empíricos sobre a vida da comunidade muçulmana que se constituía em<br />
torno da mesquita. Buscava mergulhar na vida comum dos muçulmanos da mesquita para que<br />
o convívio me permitisse traçar uma espécie de mapa etnográfico das múltiplas relações que<br />
se efetuavam naquela coletividade.<br />
Partindo do conhecimento que consegui reunir nesses meses de pesquisa, esta dissertação<br />
tentará lançar alguma luz sobre um conjunto de questões a respeito do Islã na comunidade<br />
carioca.<br />
…<br />
Estou interessado em investigar um aspecto em particular da codificação religiosa da comunidade<br />
sunita carioca, qual seja, uma espécie, instigante do ponto de vista antropológico, de<br />
racionalização do discurso religioso. A codificação religiosa que estou analisando aqui procura<br />
construir uma acomodação entre a razão humana – a razão como faculdade humana capaz<br />
de emitir juízos posicionados, fundamentados –, ciência e a religião. Este ponto merece<br />
maiores comentários.<br />
Considerando a comunidade sunita carioca como contexto etnográfico da presente dissertação,<br />
a unidade de análise aqui tomada é exatamente essa elaboração discursiva em tentame<br />
de adequação entre dois conjuntos de crenças e práticas, um religioso, outro científico.<br />
Deter-me-ei sobre a construção e circulação de interpretações que pretendem demonstrar que<br />
o Islã é uma religião racional, universal e em consonância com a ciência. É preciso aqui definir<br />
um pouco melhor esses termos, especialmente ciência e razão. Meu objetivo é demonstrar<br />
durante a dissertação as variações de sentido que ciência, razão e religião ganham no dia-dia<br />
da comunidade. Em primeiro lugar, o discurso nativo elabora um sentido para o Islã que extrapola<br />
o conceito de ‘religião’, entendido como din, como ‘sistema total’ capaz de reger a<br />
vida do ser humano por completo.<br />
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