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Baixar - Proppi - UFF

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da língua árabe. De um modo geral, o árabe é a língua na qual Deus revelou o último livro<br />

sagrado, o Alcorão. Este, portanto, só existe em árabe e a leitura perfeita da mensagem divina<br />

só é possível pelo acesso ao idioma original, aquele no qual a mensagem foi revelada. Esse<br />

tipo de explicação aparecia em uma configuração da aula cujo mote era apresentar o Islã de<br />

forma clara, precisa, objetiva, sem distorções ou preconceitos, àqueles que tivessem interesse<br />

em conhecê-lo. O propósito era constantemente destacado: livrar o Islã dos equívocos que<br />

adicionavam a ele aqueles que se propunham a comentá-lo, em geral não praticantes da religião,<br />

sem o conhecimento legítimo, munidos ou de preconceitos e informações equivocadas,<br />

ou de uma deliberada má intenção. Assim, mais do que enfatizar um propósito de converter,<br />

as aulas tinham o formato da exposição de conteúdos. Afirmou Sami na primeira aula: “Gente,<br />

vocês podem interromper a gente, tá? Pra tirar dúvidas, fazer perguntas.” Concebido como<br />

sistema claro e simples, racional, transmissível e compreensível por qualquer ser humano em<br />

pleno gozo das faculdades mentais, o sistema religioso islâmico era exposto aos alunos, não<br />

como uma alternativa, uma opção religiosa oferecida. Ele era explicado a quem tivesse o interesse,<br />

como conjunto coeso e, portanto, comunicável.<br />

O material didático das aulas de religião era composto por dois livros de autoria de<br />

Sami Isbelle, “Islã: a sua crença e a sua prática”, publicado em 2003, e “O Estado Islâmico e<br />

sua organização”, de 2008, ambos publicados pelo selo Azaan, destinado a promover obras de<br />

divulgação do Islã, patrocinado por um muçulmano membro da mesquita. Volto a este material<br />

no próximo capítulo. O que quero enfatizar aqui é a maneira como a aula era dada e a exposição<br />

do Islã feita: por contraste com outras tradições religiosas, presumivelmente presentes<br />

entre os alunos.<br />

A postura dos professores era claramente a de que tinham consciência de estar frente a<br />

uma classe composta por não muçulmanos, e partindo do princípio de que aquilo que os levava<br />

ali era a boa disposição e o interesse em conhecer uma religião constantemente denegrida<br />

pela mídia, mais do que o interesse em uma possível conversão. Isso pode ser percebido pelo<br />

constante uso que os professores faziam de expressões condicionantes: “Do ponto de vista do<br />

Islã...” “Para o Islã...”, “Para nós...”, “De acordo com o que acreditamos os muçulmanos…”.<br />

O uso e frequência dessas expressões marcam a consciência de se estar falando para uma plateia<br />

de fora. Outras expressões apareciam especialmente em momentos de diferença inconciliável<br />

com a tradição cristã em especial. Os muçulmanos recusam categoricamente fundamentos<br />

básicos da fé católica: a santíssima trindade, a natureza divina de Jesus, o pecado original<br />

de Adão e Eva como afetando toda a humanidade, a natureza divina inalterada da Bíblia, a<br />

definição de Satanás como um anjo decaído, etc.. Nesses momentos, em que a conciliação era<br />

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