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uhliana da heterogeneidade constitutiva da razão humana: apenas mais uma falácia.<br />

Claude Lévi-Strauss (1908-2009) – Estruturalismo, a ciência do concreto<br />

O caminho que vim percorrendo até aqui, passando por variadas concepções das relações entre<br />

religião, magia e ciência, procurou mostrar ao fundo as diferentes concepções da razão<br />

humana. De Tylor e Frazer, com concepções estritamente negativas da razão primitiva, passando<br />

por Durkheim e Malinowski, até às críticas de Evans-Pritchard, temos em Lévi-Strauss<br />

um espécie de superação definitiva das definições que buscavam retratar o primitivo como<br />

irracional ou limitado expressando-se por meio de crenças e procedimentos abstrusos. O estruturalismo<br />

marca uma mudança paradigmática nos modelos de análises antropológicos e<br />

mesmo depois de sua ‘substituição’ por teorias mais avant-garde, salvaguarda o primitivo da<br />

alcunha de irracional, embora seja o estruturalismo, em seu turno, um elogio à razão humana,<br />

à ciência como uma de suas manifestações.<br />

No clássico “O Pensamento Selvagem”, Lévi-Strauss começa exatamente por expor<br />

um conjunto de proposições que entram em sintonia com algumas das teorias até aqui revistas,<br />

e que apontam para uma suposta inépcia dos primitivos para o pensamento abstrato. Seja<br />

a língua selvagem, a farmácia selvagem, a herbologia selvagem, qualquer taxonomia primitiva<br />

irá ganhar algum tipo de predicado que lhe torne menor. Alega-se que as línguas civilizadas<br />

estão dotadas com maior variabilidade lexical em função de uma maior capacidade intelectual.<br />

Nominação e classificação de seres e objetos são funções das utilidades materiais,<br />

econômicas, sexuais. A esses exemplos Lévi-Strauss retruca inúmeros exemplos etnográficos<br />

– em alguns dos casos os mesmos ou das mesmas fontes utilizadas para demonstrar a tese que<br />

ele vem a derrubar, o que demonstra a fragilidade e viés dessas próprias teorias. Todos eles<br />

apontando para a riqueza conceitual do pensamento selvagem. “Em todas as línguas, o discurso<br />

e a sintaxe fornecem os recursos indispensáveis para suprir as lacunas do vocabulário.”<br />

(Lévi-Strauss 2006[1962]:15). A nominação e classificação da realidade não derivam de necessidades<br />

biológicas ou econômicas a serem atendidas, mas a interesses culturais desigualmente<br />

marcados, de modo que o pensamento primitivo possui uma ânsia por conhecimento<br />

objetivo que é negligenciada pela ciência civilizada.<br />

O amplo conhecimento desenvolvido pelos selvagens sobre a natureza, o mundo, não<br />

pode ser apenas função da utilidade prática, já que os domínios cognitivamente dominados<br />

são muito mais amplos do que aqueles que a utilidade necessitaria. A ciência primitiva atende<br />

a exigências intelectuais, não a necessidades econômicas e biológicas. Trata-se de introduzir<br />

um princípio de ordem no mundo, já que esta é exigência de qualquer forma de pensamento.<br />

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