Baixar - Proppi - UFF
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outro, como eles interagem; como o simbólico se conecta ao pragmático (Tambiah 1990:68).<br />
Toda essa exposição parte dos dados de Malinowski sobre a população trobriandesa e chama<br />
a atenção a sua proposta de falar sobre o homem em geral a partir de uma amostra mínima do<br />
fenômeno social, como se os trobriandeses contivessem em si todo o cosmo, como se fossem<br />
eles um microcosmo. Assim, as definições e relações entre magia, ciência, religião e a racionalidade<br />
que as perpassa nas ilhas Trobriand podem ser alçadas ao nível universal, abrangendo<br />
toda a humanidade.<br />
Edward Evans-Pritchard (1902-1973) – Funcionalismo etnográfico II<br />
Evans-Pritchard é talvez o etnógrafo mais celebrado na história da antropologia depois de<br />
Malinowski. Sua obra inclui etnografias clássicas, como as entre os povos Nuer e Zande, sendo<br />
a etnografia da crença zande na bruxaria (Evans-Pritchard 1976) um dos textos mais comentados<br />
de toda a história da antropologia, indo mesmo muito além de suas fronteiras disciplinares.<br />
Um dos debates mais importante da obra de Evans-Pritchard foi aquele que ele travou,<br />
partindo de um conjunto de dados etnográficos, com as teorias psicológicas da religião, em<br />
especial Tylor e Frazer, as quais ele nomeia ‘falácia do “Se eu fosse um cavalo”’.<br />
O argumento é uma especulação a priori, salpicado com algumas ilustrações, e é especioso.<br />
É um belo exemplo de falácia psicológica introspeccionista, ou ‘se eu fosse<br />
um cavalo’, a qual farei referência constante. Se Spencer tivesse vivido em condições<br />
primitivas, aqueles teriam sido, ele supôs, os passos pelos quais teria alcançado<br />
as crenças que primitivos sustentam 49 . (Evans-Pritchard 1965: 24, ênfases minhas)<br />
A crítica é clara. Teorias psicológicas da religião, em primeiro lugar tomando fenômenos sociais<br />
por manifestações de ordem psicológica generalizadas para, em seguida, por um processo<br />
especulativo de proporções portentosas, reconstruir o que teria sido o caminho para se chegar<br />
a um conjunto de crenças, que são então classificadas como religiosas.<br />
Mas em sua etnografia da crença zande na bruxaria (Evans-Pritchard 1976[1937]), o<br />
interlocutor central não é nem Tylor nem Frazer, nem qualquer outro representante da antropologia<br />
britânica, mas Lucien Lévy-Bruhl, acima comentado. A monografia sobre o povo<br />
zande desenvolve uma crítica etnográfica ao modelo levy-bruhliano da ‘mentalidade primitiva’.<br />
De acordo com a exposição de Evans-Pritchard, a bruxaria zande é um sistema de expli-<br />
49 No original: “The argument is a priori speculation, sprinkled with some illustrations, and is specious. It is a<br />
fine example of the introspectionist psychologist’s, or 'if I were a horse', fallacy, to which I shall have to make<br />
frequent reference. If Spencer were living in primitive conditions, those would, he assumed, have been the steps<br />
by which he would have reached the beliefs which primitives hold.”<br />
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