Baixar - Proppi - UFF
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mágico interage com seres espirituais, tal como a religião, mas não o faz de modo conciliador<br />
ou propiciador, mas por coerção e constrangimento. O que faz a religião se referir aos seres<br />
no intuito de conciliar ou propiciar é a crença atrelada no poder de tais seres de intervir na<br />
realidade e modificá-las ao capricho voluntarioso. Desse modo, religião assume que a ordem<br />
das coisas, as leis da natureza são maleáveis e variáveis, podendo os deuses serem induzidos a<br />
intervir nessa ordem. Assim, religião opõe-se simultaneamente à magia e à ciência.<br />
No entanto, Tambiah aponta para um detalhe importante: o fato de o mágico coagir seres<br />
sobrenaturais, e não buscar conciliação, não torna tais seres inanimados, de modo que a<br />
manutenção do paralelo entre ciência e magia na afirmação da imutabilidade e impessoalidade<br />
no funcionamento da natureza funda-se em um claro e evidente sofisma.<br />
O esquema de Frazer assim se organiza:<br />
- Magia e ciência – buscam manipular e coagir as leis da natureza a seu favor.<br />
- Religião – busca propiciar ou conciliar as leis por intermédio de divindades.<br />
É a oposição desses princípios que explica o sentimento mútuo de repulsa entre os dois<br />
conjuntos de fenômenos. Assim, no modelo evolucionário, temos: magia, partindo da apreensão<br />
de uma impessoalidade na ordem das coisas, uma invariabilidade de causas e efeitos, mas<br />
concluindo-se em uma aplicação equivocada dos princípios básicos da psique humana; religião,<br />
reconhecendo a falibilidade da magia, mas desenvolvendo-se em erro ainda maior ao<br />
povoar o mundo com seres poderosos aos quais se atribui a ordem que a magia não é capaz de<br />
controlar 33 ; ciência, açambarcando toda a verdade que até então não era possível ser acessada<br />
ou produzida. Se à magia cabe o mérito da afirmação da impessoalidade, à ciência a correta<br />
aplicação dos princípios cognitivos, o que cabe à religião? “Assim, a religião, começando<br />
como uma descoberta parcial e superficial de poderes superiores ao homem, tende, com o<br />
crescimento do conhecimento humano, a se aprofundar em uma confissão de completa e absoluta<br />
dependência do divino.” (Frazer 1985:67). Novamente: o que cabe à religião? De positivo,<br />
muito pouco ou quase nada. Ciência e magia são racionais no desenvolvimento de suas<br />
premissas lógicas fundamentais.<br />
Émile Durkheim (1858-1917) – Escola Sociológica Francesa<br />
Durkheim é um autor clássico para duas disciplinas, sociologia e antropologia, que no quadro<br />
33 Aqui podemos ver o desenvolvimento do pensamento de Tylor. Este não desenvolve claramente as distinções<br />
entre magia e religião, partindo do pressuposto de que desde o início dos tempos o animismo esteve presente.<br />
Em Frazer há um momento antes do povoamento do mundo, ao menos um momento em que esses seres, ainda<br />
que existentes, não seriam acionados pelo homem. Com florescer do pensamento religioso o animismo se estabelece.<br />
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