Baixar - Proppi - UFF
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dentre vários outros benefícios. (Isbelle 2003:223, ênfase minha)<br />
Os méritos práticos do jejum são apresentados com a mesma ênfase e imbuídos da<br />
mesma importância que os benefícios morais, religiosos. A pragmática do jejum é parte integrante<br />
fundamental, enquanto tal, do ritual religioso, de modo que sua condição religiosa não<br />
está em oposição a uma razão prática (Sahlins 2006).<br />
A última parte do livro trata da peregrinação à Meca, sua razão de ser, importância religiosa,<br />
significado. O livro termina com o lembrete de que aquele que recusa, que nega qualquer<br />
um dos pilares apresentados, da crença e da religião (a prática religiosa), está fora do<br />
Islã, ou seja, não pode permanecer sob a pretensão de ser submisso à vontade de Deus. Lembra<br />
que não se pode ser muçulmano de forma ‘cega’, por imitação dos atos dos pais. Exige<br />
sinceridade, consciência, clareza, intenção racional.<br />
A fé terá que ser consciente; no Islã não existem dogmas. Encontramos argumentos<br />
racionais sempre que um princípio da crença é estabelecido, a religião é clara e<br />
combina com a razão e com a lógica. Portanto, Deus nunca poderia revelar algo que<br />
o ser humano não pudesse entender ao passo que lhe proporcionou a razão a fim de<br />
compreender. E não poderia ser diferente já que nunca poderia haver contradição entre<br />
o Livro revelado e o mundo criado, quem a revelou É o Criador de tudo, o Onisciente.<br />
(Isbelle 2003:234)<br />
…<br />
Há um ponto de tensão bastante complexo entre essa codificação racionalista do Islã que Sami<br />
e os demais intelectuais da comunidade sunita carioca publicizam pelos canais selecionados,<br />
que são analisados neste momento, e o detalhe aparentemente prosaico, mas em verdade polissêmico<br />
e reverberante, acerca do mistério das letras iniciais isoladas em algumas das suratas<br />
corânicas. A codificação religiosa produzida pelos intelectuais da comunidade é contundente<br />
em afirmar a racionalidade, clareza, objetividade e consonância do Islã com a ciência<br />
moderna, produto mais bem acabado da razão humana. A irracionalidade, o misticismo, o o-<br />
culto e o imponderável são constantemente rechaçados como possibilidades interpretativas do<br />
Islã, que, segundo essa codificação, ao derivar de uma entidade racional, não poderia deixar,<br />
por sua vez, de estar dotado do mesmo atributo, assim como a criatura a quem se dirige o Islã<br />
– Deus, Islã e Ser Humano, todos partilham do mesmo atributo racional, sem o qual nenhum<br />
entendimento da realidade e de Deus seria possível.<br />
A crítica dirigida à Igreja Católica segue precisamente por pontuar em sua cosmologia<br />
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