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Baixar - Proppi - UFF

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cê bebeu o suficiente para resistir”, afirmou França. Essa explicação expõe o funcionamento<br />

da crença muçulmana nesse dispositivo regulatório da ação via intenção racional. Um pecado,<br />

uma incorreção, só se caracteriza enquanto tal quando se tem consciência dela. “Os atos só<br />

falem pelas intenções” era uma frase repetida a todo o momento na vida religiosa da comunidade.<br />

A quebra involuntária do jejum só é definitiva quando se tem consciência e intenção da<br />

quebra. Do contrário, foi obra divina, por sua onisciência e onipotência. A intenção é racional.<br />

A forma como o homem organiza sua intencionalidade, sua consciência da ação, vontade e<br />

disposição, é uma forma de racionalização frente ao conjunto de princípios que regem a prática<br />

do fiel. Assim, o dispositivo de intenção funciona por organizar, de acordo com princípios<br />

morais – o dever de manter o jejum –, e determinar a intenção do ato.<br />

Essa racionalidade da intenção na importância do jejum foi manifesta também em uma<br />

provocação que fiz ao presidente da SBMRJ, Mohammed Zeinoun Abdin. Refiro-me a provocação<br />

no sentido jurídico, provocar uma questão, uma resposta, uma reação. Inicialmente perguntei<br />

à mesa em que me sentava para a janta, se o jejum continuava valendo para a população<br />

do Paquistão, que sofria com fortes chuvas e um estado de calamidade total naquela semana.<br />

Expliquei que a questão que me passava à cabeça era se, com a fome involuntária que<br />

passavam, e a chegada de comida via ajuda humanitária internacional, o jejum voluntário deveria<br />

ser mantido. Abertamente todos disseram não saber responder, alguns afirmando que<br />

provavelmente o jejum continuava valendo. Em geral, quando surge uma questão cuja resposta<br />

não se sabe, Sami Isbelle é procurado como a autoridade em assuntos religiosos capaz de<br />

sanar as dúvidas, dado o seu prestígio como professor de religião da comunidade. Nem Sami,<br />

nem Munzer, nem Samer, nem Fernando, todos reconhecidos como possíveis fontes da resposta,<br />

encontravam-se presentes naquela noite. Imediatamente levaram a questão ao ‘seu Mohammed’.<br />

Egípcio, com anos de vida na Espanha, ‘seu Mohammed’ tem um forte sotaque<br />

anasalado e tende muito sutilmente a um portunhol. Sua resposta foi simples: “Si. Pega, guarda<br />

e come depois.” O ato de guardar foi indicado pondo a mão no bolso. O tom da resposta<br />

era o de que se tratava de uma tremenda obviedade. Racionalmente, todo muçulmano sabe<br />

qual é o ato correto a ser executado e a intenção e vontade devem ser reguladas pelo princípio<br />

moral racionalmente apreendido.<br />

A experiência de ter mantido por quase dois dias o jejum e tê-lo quebrado em conjunto<br />

com fiéis enfatizou em mim a dimensão carnal do jejum e determinados sentidos que, segundo<br />

afirmaram, é um dos propósitos do Ramadan.<br />

O jejum deve seguir do nascer ao pôr do sol, o que significa que se deve jejuar entre as<br />

orações do fajr, zhuhur e asr, encerrando-se com a entrada no período da oração do Maghrib,<br />

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