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Baixar - Proppi - UFF

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intermediário de uma espécie de escada de três degraus, que levou o homem da completa ignorância<br />

à racionalidade científica e seu progresso, fosse a magia ocupando o primeiro destes<br />

degraus; ou ainda, não fosse sequer a religião em si diretamente acionada, mas uma mentalidade<br />

humana inferior, porque dotada de misticismo e pré-lógica, marcada pelas crenças místicas,<br />

confinadas em um quadro comum à religião, o que estava em jogo era alijar a religião,<br />

pensada, em último caso, como uma forma de cognição ou propriamente o conteúdo do conhecimento,<br />

de qualquer definição positiva da racionalidade humana. Pensadores como Tylor,<br />

Fraser, Lévy-Bruhl ilustram esse conjunto.<br />

Émile Durkheim foi o primeiro a procurar pensar a religião de forma positiva, produtiva,<br />

como fundada na realidade das coisas – a ‘coisa’ fundamental sendo exatamente a sociedade,<br />

fonte última da verdade e da realidade. Ainda assim Durkheim concebe a religião em<br />

uma chave evolutiva e toda a positividade que consegue lhe oferecer é ser uma espécie precursora<br />

da ciência, esta sim, plenamente racional. Durkheim, e seu ilustre sobrinho Marcel<br />

Mauss, buscam apontar gêneses sociais para os quadros lógicos que compõem o entendimento<br />

humano. Mas ainda assim, a religião, sua logicidade e racionalidade, ainda é profundamente<br />

perpassada pelo sentimento, pela emoção, o que impede que elas se tornem algo mais do que<br />

a origem dessa racionalidade, não a realizando completamente.<br />

O debate acerca da racionalidade do pensamento religioso, ou do primitivo, religioso<br />

par excellence, seguiu por tentar definir a religião fora de quadros negativos, seja com Malinowski<br />

dotando o pensamento primitivo de uma racionalidade prática e funcional, ou Evans-<br />

Pritchard dotando o pensamento primitivo de procedimentos lógicos. Mas ainda assim, o fenômeno<br />

que aponto neste trabalho aponta para uma nova relação entre a racionalidade e a religião.<br />

O sagrado, o elemento fundamental das definições de religião desde Durkheim, adquire<br />

novos atributos e novas formas de manifestação. A hierofania, as formas de manifestação do<br />

sagrado, para manter a expressão do velho Mircea Eliade (Eliade 1965), apresenta-se aqui alinhada<br />

à racionalidade, não apenas em um sentido de ordem e sistematicidade dada ao mundo<br />

– a religião organizando o mundo. Mas no sentido de tornar esse sagrado demonstrável, lógico,<br />

preciso, afinado com a ciência. Deus, como apontei na codificação religiosa da comunidade<br />

muçulmana sunita carioca, se manifesta ao homem por meio de fenômenos – no sentido<br />

kantiano – racionais, em que a explicação do mundo oferecida pela ciência, a esfera por excelência<br />

da razão, contribui para a apreensão de Deus e Sua verdade. O sagrado não é somente a<br />

esfera do interdito, do misterioso, do perigo. Na codificação religiosa apresentada aqui, este<br />

sagrado é próximo, apreensível porque racional.<br />

Se Deus manifesta sua grandeza em sua obra, e esta tanto é racional quanto envolve a<br />

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