VIAGEM A âMOJAVE-ÃKI!â - Faders
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Depois que o menino permitiu que a mãe trouxesse seus trabalhos produzidos<br />
em casa, a temática de Mojave-Óki foi adicionada ao brinquedo. Desta entrevista em<br />
diante, os bichos e as pessoas iniciaram um processo de negociação de seus espaços<br />
com os bichos, construindo novas casas e buscando novos espaços para si próprios.<br />
Analisando o material trazido pela mãe, pode-se observar a riqueza de detalhes<br />
que compõe as criações de Paulo (Anexo K). Ao ser questionado sobre sua invenção,<br />
ele me diz que antes de ser Mojáve-Óki, o país que ele inventou chamavase<br />
Soutrália e, antes de ser um país, ele era um estado. A cada encontro, Mojave-<br />
Óki apresentava novas configurações, estando sempre em constante mudança.<br />
No segundo semestre de 2003, a vida de Paulo sofreu uma grande modificação,<br />
pois sua mãe engravidou. A chegada deste irmão provocou em Paulo sentimentos<br />
muito contraditórios, comuns a qualquer outra criança. Ao mesmo tempo em que<br />
o menino se alegrava com a possibilidade de ter um companheiro – ele queria um<br />
irmão -, também externava, em suas brincadeiras, a raiva que sentia por não ser<br />
mais o único alvo das atenções dos pais. Neste período, ele deixou de centrar o foco<br />
de suas brincadeiras nos animais e passou a usar somente a casinha e as figuras<br />
humanas – Família Terapêutica - em seu jogo simbólico.<br />
Com o nascimento de Leandro, no início de 2004, Paulo concentrou sua agressão<br />
na figura do menino da Família Terapêutica - chamado de Joãozinho. No final<br />
de uma destas entrevistas, onde Paulo massacrou Joãozinho, eu disse, brincando<br />
com ele, na saída, que cuidasse bem do Joãozinho. Para minha surpresa, Paulo<br />
respondeu, com ar sorridente: “O nome dele não é Joãozinho. É Leandro!” Nesta<br />
mesma entrevista, Paulo fez, espontaneamente, uma avaliação das atividades (e de<br />
seus sentimentos), externando o quanto elas haviam sido boas e significativas para<br />
ele, atitude que se repetiu em outros encontros .<br />
No final de 2004, estava previsto o encerramento das entrevistas de acompanhamento<br />
deste estudo. Nesta última, Paulo e seus pais assistiram ao vídeo, no qual<br />
foram apresentadas as estruturas narrativas analisadas nesta investigação. Durante<br />
essa entrevista, inicialmente, Paulo parecia chateado, manifestando por diversas vezes<br />
seu desejo de que acabasse logo para irmos brincar. Com a observação de suas<br />
imagens, Paulo foi se interessando e contribuindo com elas, acrescentando o que<br />
deveria ser feito/dito e que ele, naquele momento, não fez/disse, principalmente no<br />
domínio da Matemática. Os pais assistiram ao filme com muita atenção e sem nada<br />
falar. No término da atividade, eles avaliaram a importância da filmagem e da seleção<br />
feita, pois, além de contribuir para a definição dos indicadores das altas habili-