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VIAGEM A “MOJAVE-ÓKI!” - Faders

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134<br />

quem ganha o jogo 23 . Pela análise da dimensão visual, observa-se que Paulo, tal<br />

qual Vitória, demonstra ter internalizado o conhecimento das quantidades, pois ao<br />

separar três bolinhas de gude somente olhando para as mesmas, utiliza um processo<br />

diferente do de Saul, que ainda necessita contá-las uma a uma.<br />

Cabe destacar que esta foi a única atividade de Paulo na qual os animais não foram<br />

incluídos. Seu comportamento motivado e participativo deu lugar a uma atitude<br />

distante e displicente. Às propostas feitas por mim, Paulo reage de forma opositiva,<br />

tais como: colocar três bolinhas no lugar de quatro; responder que a soma das bolinhas<br />

dá onze, quando na verdade ele sabe que são dez (Paulo começa a dizer dez e<br />

fala onze); mostrar seu desagrado com a tarefa através de uma careta e, por último,<br />

sair do brinquedo, retornado para os animais. Tais comportamentos podem ser indicativos<br />

de que a área da matemática não é ponto forte de Paulo, além de evidenciar a<br />

dificuldade do menino em aceitar o “erro” e o “fracasso”. Tais atitudes são muito comuns<br />

em pessoas com altas habilidades/superdotação, pois a elevada autocrítica que<br />

esses sujeitos apresentam contribuem para o aumento da auto-exigência.<br />

Pela análise da dimensão verbal fica confirmada a interpretação da dimensão<br />

visual, pois Paulo com freqüência opta por dar as respostas “erradas”, como forma<br />

de se diferenciar de Saul e chamar a atenção sobre si mesmo.<br />

As atividades propostas de quantificação dos objetos (as bolinhas de gude, no<br />

caso de Paulo, e as massinhas, no caso de Vitória) ajudam a entender o processo<br />

pelo qual as crianças passam, na construção do número. Kamii (1991, p. 38) apresenta<br />

a hipótese “[...] de que o pensamento envolvido na quantificação de objetos<br />

deve também ajudar a criança a construir a estrutura mental, se ela estiver num nível<br />

relativamente avançado para construí-la”. Portanto, parece-me bastante evidente<br />

que tanto Vitória quanto Paulo apresentam uma estrutura mental que permite a noção<br />

de conservação do número.<br />

Kamii (1991) também destaca que, quando a criança não tem a instrução precisa,<br />

ela tem maiores chances de construir sua autonomia intelectual e autoconfiança.<br />

Neste sentido, cabe analisar minha atitude nesta estrutura narrativa, pois, segundo a<br />

autora, minha intervenção diretiva não favorece o aparecimento da autonomia. Ao<br />

dirigir a relação entre as quantidades e os símbolos nas diferentes casinhas, não favoreci<br />

que Paulo e Saul escolhessem o caminho que queriam seguir para a construção<br />

do seu processo. Parece que esta minha atitude foi recebida por Saul, com inte-<br />

23 O objetivo do jogo é retirar as varetas, sem deixar cair nenhuma bola de gude. Ganha o jogo aquele que deixar cair menor<br />

número de bolinhas.

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