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VIAGEM A “MOJAVE-ÓKI!” - Faders

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Este pensamento auxilia a compreender o sentimento de Vitória em relação à<br />

diversidade, pois, ao conviver no mesmo dia com três culturas diferenciadas - inglesa,<br />

uruguaia e brasileira -, a menina é obrigada a desempenhar papéis e a mostrar<br />

aspectos pessoais que determinam sua interação com esses ambientes. As palavras<br />

de Vitória evidenciam, também, que a menina, ao perceber sua diferença, sofre com<br />

isto e manifesta seu desagrado com esta percepção. Ao desejar ter a mesma cor<br />

que os demais, revela seu deslocamento nesse grupo social, entendimento que é reforçado<br />

pelo depoimento da mãe ao denunciar o xenofobismo dos uruguaios em relação<br />

aos brasileiros.<br />

Paulo também evidencia um sentimento de não pertinência ao seu ambiente,<br />

representado, inicialmente, pela temática de seu jogo simbólico e preferência pelos<br />

“bichos” 27 em seu brinquedo e, posteriormente, pela criação de Mojave-Óki com território,<br />

bandeira, moeda e língua próprias. No entanto, ao propor a atividade em nosso<br />

último encontro, onde uma única bandeira foi feita, mantendo, porém, dentro dela<br />

as “marcas simbólicas” de cada um de nós, Paulo mostrou-me um entendimento sobre<br />

a diversidade, fazendo uma referência à nossa identificação como sujeitos semelhantes<br />

e ao mesmo tempo diferentes, com características próprias e que devem ser<br />

mantidas e, principalmente, respeitadas.<br />

Ao mesmo tempo em que destaco os aspectos que dificultam o processo de<br />

construção da identidade de Paulo e Vitória, quero enfatizar, como ponto positivo, o<br />

alto grau de “insight” demonstrado pelas duas crianças. Vitória, ao modificar radicalmente<br />

seu comportamento, logo após uma psicoterapia breve, e Paulo, avaliando o<br />

quanto nossos encontros lhe faziam bem - apesar de não terem um enquadre psicoterápico<br />

-, permitindo-lhe evidenciar seus conflitos e condições subjetivas para resolvê-los.<br />

Ou seja, estas crianças percebem que são “diferentes” e manifestam seu desagrado<br />

em relação a esta percepção. Porém, se o ambiente contribuir para o reconhecimento<br />

e entendimento da natureza destas diferenças - as características que<br />

evidenciam as altas habilidades/superdotação - terão melhores condições para conviver<br />

com elas como sendo algo natural e alvo de prazer.<br />

Terrassier (2000) e Silverman (2002) justificam esses comportamentos observados<br />

em Paulo e Vitória através de um conjunto de traços peculiares que evidenciam<br />

a heterogeneidade e o descompasso entre as diferentes áreas do desenvolvi-<br />

27 Bem sei que “bichos” são personagens, dentre tantos outros, comumente preferidos pelas crianças, principalmente pelos<br />

meninos. Porém, Paulo, segundo o que pode ser evidenciado nas Estruturas Narrativas, preferia brincar com os “insetos”,<br />

tendo uma atração especial pela barata - animal que, geralmente, desperta repulsa nas pessoas e que, no entanto, apesar de sua<br />

aparente fragilidade, parece ser um dos espécimes mais resistentes do reino animal.

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