VIAGEM A âMOJAVE-ÃKI!â - Faders
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e “[...] mulher que tem a bunda maior do mundo”. Algumas questões aparecem aqui.<br />
O que significa, para Paulo, ter a bunda menor do que a de uma barata? Ao mesmo<br />
tempo, qual o significado do termo “super” usado insistentemente por Paulo, associado<br />
aos produtos esfincterianos, e que aparece logo após minha colocação dos objetivos<br />
do nosso trabalho?<br />
Estas questões remetem a uma temática tão importante quanto a da inteligência<br />
e que diz respeito aos fatores de personalidade dos sujeitos com altas habilidades/superdotação.<br />
Destaco, dentre estes fatores, o autoconceito, definido por Galvez;<br />
Moreno e Sánchez (1997, p. 122) como “[...] a percepção ou a imagem que<br />
mantemos sobre nós mesmos”. Considerando o autoconceito como aquela representação<br />
total que a pessoa tem de si mesma e de suas atitudes e características<br />
singulares, as autoras destacam a importância dessa concepção, considerando-a<br />
como um dos fatores principais na “[...] organização da personalidade, da motivação,<br />
do comportamento, e, em definitivo, a contribuição para um desenvolvimento harmônico<br />
e equilibrado do indivíduo” (GALVEZ; MORENO; SÁNCHEZ, 1997, p. 122).<br />
Apesar das autoras sustentarem a idéia de que os sujeitos com altas habilidades/superdotação<br />
apresentam um autoconceito mais favorável, se comparado aos<br />
seus pares não superdotados, o que se observa nos discursos de Paulo e Vitória<br />
remete a uma idéia diferente. Ao mesmo tempo em que as duas crianças percebem<br />
suas diferenças em relação aos demais companheiros de mesma faixa etária, parece<br />
que tais diferenças não são vivenciadas como “coisas boas”.<br />
É essa a realidade que observo em minha prática profissional: um sujeito que<br />
se sente diferente dos demais, com dificuldades para formar um grupo de iguais tende,<br />
na grande maioria dos casos, a esconder seu talento em áreas determinadas.<br />
Portanto, considerando as palavras de Paulo - “Super-raio de cocô de fogo” e “Escudos<br />
protetores de raios de cocô” – é possível inferir os sentimentos contraditórios do<br />
menino em relação ao “ser superdotado”. Ao mesmo tempo em que esta situação é<br />
vivenciada como uma coisa forte, poderosa e natural - um “super-raio” que nada<br />
destrói -, esse raio é feito de “cocô de fogo”, adquirindo uma conotação de excremento<br />
destruidor. A frase seguinte, que evidencia as defesas utilizadas por Paulo<br />
nesse processo, pois, ao falar dos “escudos protetores”, o menino apresenta o modo<br />
pelo qual os “super-raios de cocô” se defendem.<br />
No que se refere à análise do Domínio da Linguagem de Vitória, que o comportamento<br />
da menina, durante as atividades, caracterizou-se pelo uso restrito da co-