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VIAGEM A “MOJAVE-ÓKI!” - Faders

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Neste pensamento, o autor enfatiza a importância da relação com o outro na<br />

construção da identidade e salienta que é no convívio social que ela se estabelece.<br />

Rios (2002, p. 120/121) enriquece esta idéia ao destacar que “[...] a identidade conjuga<br />

as características singulares de um indivíduo à circunstância em que ele se encontra,<br />

à situação em que ele está”. Entendida desta forma, não temos uma identidade,<br />

mas muitas, que representam a síntese das contradições do dia-a-dia, em<br />

permanente (re)construção. Com base nesses enunciados, pontuo alguns aspectos<br />

importantes nos comportamentos de Vitória e Paulo.<br />

Vitória provém de um ambiente altamente estimulador social e culturalmente,<br />

recebendo estímulos variados desde tenra idade, apesar de ter tido pouco contato<br />

social com crianças de mesma faixa etária. É hábito da família de Vitória “expor” os<br />

talentos da menina, que se apresenta em audições musicais e em exposições de artes<br />

plásticas em sua cidade. Vitória vem manifestando seu desagrado por este compartilhamento<br />

de suas “produções”, atitude que também pode ser observada em alguns<br />

adultos com altas habilidades/superdotação, em minha prática no CEDEPAH.<br />

Entendo que este comportamento significa a “posse” de suas capacidades e traduz<br />

para o “outro” este sentimento, evidenciando que suas habilidades lhe pertencem e<br />

não estão aí para serem exibidas. Quero enfatizar, com esta idéia, que a exposição<br />

de seus talentos/capacidades incomoda o sujeito com altas habilidades/superdotação,<br />

pois é percebida como uma invasão de sua subjetividade. Este sentimento não<br />

foi observado tão diretamente em Paulo, pois sua família procura preservá-lo de situações<br />

onde ele tenha que “provar” suas capacidades. No entanto, não posso deixar<br />

de destacar que Paulo só foi mostrar-me suas “produções” um ano depois do<br />

acompanhamento mensal proposto pelo CEDEPAH. Esta atitude também pode ser<br />

entendida como tendo a mesma origem daquela de Vitória, ou seja, preservação de<br />

sua subjetividade e de suas habilidades.<br />

Outro fator que revela as dificuldades enfrentadas por Vitória em seu processo<br />

de individuação é a percepção do “ser diferente”, evidenciado quando a menina faz<br />

alusão ao seu desagrado por ter um tom de pele mais escura. A contribuição de<br />

Rosseti-Ferreira et al (2004) oferece subsídios para analisar a importância dos diferentes<br />

ambientes aos quais a menina tem sido submetida e que entendo estarem relacionados<br />

com esta questão. Nesse sentido, as autoras destacam que,<br />

[...] o contexto desempenha um papel fundamental visto que, inseridas nele,<br />

as pessoas passam a ocupar certos lugares e posições – e não outros -,<br />

contribuindo com determinados aspectos pessoais - e não outros – delimitando<br />

o modo como as interações podem se estabelecer naquele contexto<br />

(ROSSETI-FERREIRA et al, 2004, p. 26).

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