VIAGEM A âMOJAVE-ÃKI!â - Faders
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meado pelo conceito de Identificação, e tem como finalidade, além de sistematizar<br />
uma abordagem que possibilite o (re)conhecimento desses indivíduos, também analisar<br />
algumas características particulares do grupo social composto pelas pessoas<br />
com altas habilidades/superdotação. A esta visão naturalista do termo, segundo Hall<br />
(2000, p. 106), é possível agregar um outro olhar, percebendo a identificação como<br />
um processo de subjetivação e de formação da identidade que nunca se completa e<br />
“[...] que se pode, sempre, ‘ganhá-la’ ou ‘perdê-la’; no sentido de que ela [a identidade]<br />
pode ser, sempre sustentada ou abandonada”. Assim, para Hall (2000, p. 106),<br />
“a identificação é, pois, um processo de articulação, uma suturação, uma sobredeterminação<br />
[...]”.<br />
Muitas são as questões que emergem quando se pensa no sentido desta reflexão<br />
associada às altas habilidades/superdotação. O que representa, para Paulo,<br />
nascer/viver em um estado como Mojave-Óki? O que é um “Estado”? O que significa<br />
estar num “deserto” que não se caracteriza como o “deserto típico do nosso imaginário”?<br />
Da mesma forma, Vitória, ao referir seu desejo de não ter um tom de pele mais<br />
escuro, quando chegasse o verão, estava comunicando uma expectativa que vai a-<br />
lém da questão estética ou racial. Parece-me que as duas crianças estão comunicando<br />
a percepção de suas “diferenças” e como estas são vivenciadas por si próprias.<br />
As respostas a estes questionamentos fogem da discussão que enfocam<br />
questões puramente cognitivas e remetem àquelas que abordam a formação da i-<br />
dentidade, autopercepção e autoimagem.<br />
Não era minha intenção examinar as diferenças e semelhanças observadas<br />
nos comportamentos dos sujeitos deste estudo, no entanto, face às evidências marcantes<br />
apresentadas pelas crianças não foi possível ignorar que os comportamentos<br />
de Paulo e Vitória se destacam dos demais componentes do grupo, em função de<br />
suas capacidades diferenciadas para sua faixa etária. Para Woodward (2000, p.14),<br />
a identidade é um conceito relacional, marcado pela diferença e é “[...] estabelecida<br />
por uma marcação simbólica relativamente a outras identidades [...]” (grifos da autora).<br />
Seguindo esta linha de pensamento, só há identidade superdotada porque e-<br />
xiste outra identidade não superdotada e que, portanto, lhe reflete a diferença. Este<br />
processo é cunhado pela contradição, pois ao mesmo tempo em que a pessoa se diferencia<br />
do “outro”, ela necessita desse “outro” para espelhar suas semelhanças.<br />
Semelhanças estas que são produtos das experiências adquiridas na convivência<br />
cotidiana com outras pessoas. Daí a importância da observação entre as semelhanças<br />
e as diferenças nos comportamentos de Geraldo, Vitória e Paulo.