26.06.2013 Views

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A morte do sacristão era pedida por todos; seu ato transgressor não poderia de forma<br />

alguma ser aceito pela sociedade da época, embora toda a culpa recaísse sobre a Teiniaguá,<br />

que era moura e, assim, falsa, sedutora e feiticeira. A transgressão dela, conforme veremos na<br />

seqüência, era algo empírico, quase involuntário, uma vez que o fato de ela ser de uma etnia<br />

diferente, constituir a <strong>representação</strong> <strong>feminina</strong> e, assim, ter poderes ligados à prática da magia,<br />

bruxaria e sedução justificavam seu ato transgressor. Cabia, portanto, a ele, servo de Deus,<br />

não se deixar cair em tentação.<br />

Todavia, no que tange à Teiniaguá 33 , Cícero Lopes (1999, p. 32) sustenta que<br />

Teiniaguá ou Teiuiaguá 34 é personagem caracteristicamente híbrida, visto que é metade<br />

<strong>representação</strong> <strong>feminina</strong>, metade lagarto, e está presente na cultura popular da região das<br />

Missões e da Campanha do Rio Grande do Sul. Falar aqui em hibridez subentende uma marca<br />

transgressora, uma vez que a transgressão só é legitimada na desobediência e na paixão, na<br />

ação e na mobilidade, na modificação, pois a pureza perece de imobilidade. Mas essa hibridez<br />

não se restringe a isso, já que a própria narrativa “A Salamanca do Jarau” se transforma, a<br />

partir de sua estrutura interna, na sua superação enquanto lenda e na superação do mundo em<br />

que ela foi originalmente concebida (LOPES, 1999, p. 19). Portanto, ao se levantar o<br />

questionamento sobre lenda – conto, com base nas explicações de Cícero Lopes, já se pode<br />

perceber relações híbrido-dialógicas entre o texto original e o texto do autor; o argumento<br />

básico do texto é proveniente de lenda ou lendas, já que a lenda, por definição, pode ser<br />

entendida como uma mistura de vozes e é essa definição que permite se aceitar mais de um<br />

argumento para o texto. Cada voz presente, a do narrador, a de Blau Nunes, a do Santão,<br />

carrega consigo vivências, dogmas, normas e regras que devem ser seguidas e isso permite<br />

que a narrativa se construa a partir de diferentes argumentos, dando a idéia de que dentro de<br />

uma mesma narrativa existem várias.<br />

33 Teiniaguá e Santão são representações centrais dentro da narrativa, entretanto seus nomes são colocados o<br />

tempo todo em letras minúsculas, dando a eles uma conotação de função ou categoria.<br />

34 Cícero Galeno Lopes destaca que os substantivos Teiniaguá e teiuiaguá são compostos de teiú e aguaíca. Teiú<br />

é designação indígena de lagarto, segundo o Novo dicionário Aurélio. O étimo tupi significa “comida de<br />

gentalha”. Aguaíca (tupi) significa “manceba, namorada que peca por obras”. Essa acepção de aguaíca se<br />

encontra registrada no Diccionario portuguez-brasiliano e brasiliano-portuguez editado em Lisboa pela Officina<br />

Patriarchal, em 1875. As formas Teiniaguá e teiuaguá são equivalentes, mas é mais comumente encontrada a<br />

primeira (LOPES, apud FILIPOUSKI, NUNES, BORDINI et al.).<br />

25

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!