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A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

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que “esse tipo de análise permite à interpretação literária o alçamento de novas dimensões<br />

para além dos seus limites estéticos e exclusivos, estabelecendo um vínculo entre o textual e o<br />

cultural”, é possível afirmar que é dessa relação entre o textual e o cultural que surgem todas<br />

as regras que irão regulamentar o comportamento esperado do feminino. No caso da<br />

Corriveau, a condenação aconteceu porque ela não se limitou a seguir os dogmas e normas<br />

preestabelecidos e procurou criar suas próprias normas. Assim, se deixarmos um pouco de<br />

lado a questão literária, de análise de uma <strong>representação</strong> oral, e pensarmos nela enquanto<br />

personagem pertencente à história do Quebec, ela pode ser vista como uma mulher que tinha<br />

por objetivo fazer suas escolhas. Casou-se uma vez, não deu certo. Casou-se novamente e a<br />

relação também fracassou; fator fundamental na determinação de sua condenação, uma vez<br />

que escolher com quem se casar não era da alçada da mulher, bem como eram proibidos a ela<br />

o descontentamento com a relação e a separação. Ou seja, tudo se justifica com base na<br />

cultura da sociedade <strong>quebequense</strong> da época, que privilegia o masculino, suas vontades, suas<br />

idéias, em detrimento ao feminino, visto como ser submisso e oprimido.<br />

Nesse sentido, Maria Luiza Heilborn (1992, p.43), com base em Ria Lemaire, diz que<br />

é cada vez mais freqüente a ênfase dada ao modo como o amor e a sedução ocupam papel<br />

importante nas tramas dos romances inauguradores da identidade nacional latino-americana.<br />

Se pensarmos no caso da Teiniaguá não é diferente: amor e sedução estão imbricados nesse<br />

mito que, ao relatar o envolvimento erótico do sacristão com a figura maligna, institui uma<br />

narrativa da identidade gaúcha. Ainda para a autora, a paixão e o desenlace pouco generoso<br />

com as mulheres indicariam a derrota histórica das mulheres <strong>nos</strong> países emergentes.<br />

Ligar a mulher ao sentimentalismo, à sedução e à submissão é aceitar as imposições<br />

sociais existentes desde tempos muito remotos. Cada uma dessas personagens e/ou mitos da<br />

oralidade teve função determinada de acordo com o período histórico em que se inscreve e<br />

com as normas sociais, políticas e econômicas vigentes. As funções desempenhadas por cada<br />

uma delas puderam defini-las como representações culturais a sinalizar mudanças quanto às<br />

normas de gênero. Mesmo que não tenham sido fator determinante para a mudança de<br />

pensamento social e das relações de poder, foram fundamentais para que o modo como as<br />

mulheres são vistas mudasse lentamente.<br />

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