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A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

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Teiniaguá é sinônimo de desregramento sexual; ela é vista como personagem<br />

sexualmente atraente, com interesses sexuais explícitos pelo homem que encontra, figura que<br />

quebra a relação costumeira entre os gêneros ao invadir o espaço masculino. Na relação de<br />

gêneros de dominador/dominado, Teiniaguá é dona de seu prazer e de sua vontade e leva o<br />

santão, que representa o católico, o socialmente correto, ao pecado. O que está em questão<br />

não é o desejo carnal que o homem possui intrinsecamente, mas a influência direta da mulher<br />

na liberação de um desejo que não é permitido a um membro da Igreja Católica. Na verdade, a<br />

grande busca das mulheres bruxas é por sua liberdade, empreendida a partir da prática da<br />

magia, de um comportamento marginal, da construção de uma identidade <strong>feminina</strong>, e tem<br />

como meta principal a libertação sexual. As representações <strong>feminina</strong>s aqui estudadas<br />

demandam pelas escolhas; por poder escolher manter uma relação erótica com um sacristão,<br />

que antes de ser um servo de Deus, é um homem que também tem fraquezas – como no caso<br />

da Teiniaguá, ou por uma escolha de não sofrer maus tratos – já que vários estudiosos da<br />

literatura <strong>quebequense</strong> atribuem o fato de a Corriveau ter assassinado dois ou sete maridos ao<br />

de ela ter sido violentada pelos parceiros.<br />

Segundo Paola Zordan (2005, p. 332),<br />

o que a figura da bruxa ensina é um certo modo de enxergar a mulher, principalmente<br />

quando esta expressa poder. Ao longo de muitas eras da civilização patriarcal, a lição<br />

predominante sobre as mulheres que fazem uso de poderes ou que se aliam a forças<br />

que, de um modo ou de outro, a máquina civilizatória não consegue domar, é bem<br />

conhecida de todos. Toda expressão de poder por parte das bruxas desembocava em<br />

punição. Cunhada dentro do cristianismo, a figura das bruxas traduzia-se em mulheres<br />

devoradoras e perversas que matavam recém- nascidos, comiam carne humana,<br />

participavam de orgias, transformavam-se em animais, tinham relações íntimas com<br />

demônios e entregavam sua alma para o diabo (...).<br />

Nesse sentido, pode-se afirmar que as representações <strong>feminina</strong>s, sejam elas<br />

pertencentes ao universo simoniano – Teiniaguá –, ou ao universo da literatura oral<br />

<strong>quebequense</strong> – Corriveau –, são associadas a um percurso de paixão e sangue. No caso<br />

daquelas reinventadas por Simões Lopes Neto, vale destacar que nascem à semelhança da<br />

Teiniaguá lendária, arrastam os homens para o extermínio, ressurgindo <strong>nos</strong> momentos mais<br />

dramáticos da experiência verbalizada por Blau Nunes, ocupando todos os níveis da narrativa.<br />

A transgressão cometida pela Teiniaguá tem justificativa no prazer carnal que leva o parceiro<br />

ao pecado; contudo é uma <strong>representação</strong> mítica que, indo ao encontro do que Zordan afirma,<br />

tinha relações íntimas com o demônio e entregava sua alma ao diabo. Teiniaguá pode ser vista<br />

como bruxa, a partir das colocações de Zordan, por se tratar de uma <strong>representação</strong> <strong>feminina</strong>,<br />

híbrida, amaldiçoada pelo diabo, que vem com os mouros da Península Ibérica para a<br />

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