26.06.2013 Views

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A Teiniaguá é árabe, mas ao chegar no Rio Grande do Sul, se transforma em uma<br />

mescla mouro-cristã, a partir do desejo que ela tem pelo sacristão e que é correspondido. É<br />

uma relação de pecado, mas que também agrega certo misticismo presente no cálice sagrado<br />

no qual o sacristão mistura o vinho do santo sacrifício com o mel de lixiguana. O<br />

encantamento entre eles se fez presente em diversos momentos, sob a forma de fascinação no<br />

momento em que a Teiniaguá salva o sacristão e, também, quando Blau Nunes saúda o<br />

sacristão três vezes e depois rejeita tudo o que lhe foi oferecido no momento das sete provas 88 .<br />

A Corriveau, por sua vez, é personagem histórica que após a condenação vai ser<br />

elevada a <strong>representação</strong>. No que tange ao pecado, seu maior foi querer ter domínio sobre seus<br />

desejos. Não existem dados claros na narrativa que <strong>nos</strong> levem a pensar numa situação de<br />

erotismo, todavia, era o poder de sedução que lhe permitia conquistar os maridos. O que<br />

podemos entender, entretanto, é que as narrativas da Teiniaguá e da Corriveau deram abertura<br />

para uma nova expectativa acerca da maneira como a mulher é vista, mesmo que tenham sido<br />

manifestações embrionárias, que precisaram de um bom tempo (histórico e de inovações<br />

sociais) para se consolidarem.<br />

Pelo fato de a Teiniaguá aparecer sob a forma de sedutora, da que deseja e seduz um<br />

homem proibido, entendemos a importância como um modo de alertar que tipo de mulher era<br />

aceita pela sociedade. Assim, podemos ver na Teiniaguá a primeira semente plantada na busca<br />

por uma sociedade gaúcha me<strong>nos</strong> machista e com menor rigidez religiosa; uma sociedade que<br />

pudesse compreender o verdadeiro objetivo do mito da Teiniaguá: a realização enquanto<br />

mulher, a afirmação de seu papel de moura-árabe e a aceitação da miscigenação como forma<br />

de enriquecimento e de formação de uma sociedade multicultural. A sociedade gaúcha era<br />

resistente em aceitar sua mistura com novas culturas, entretanto foi ela a responsável pela<br />

formação da heterogeneidade cultural.<br />

Por outro lado, a sedução pode ser entendida também como impureza. A mulher só<br />

poderia relacionar-se com o homem, de acordo com os dogmas cristãos, depois do casamento.<br />

A Teiniaguá era intocada, mas se deixou tocar pelo sacristão, indo assim na contramão do<br />

comportamento esperado para uma mulher e, principalmente, de um religioso, que tinha como<br />

norma não ter desejos carnais, e, portanto, não se envolver com mulheres. A impureza, então,<br />

está ligada ao caráter erótico que leva à transgressão a partir do sexo. Na sociedade de<br />

estância do Rio Grande do Sul, o homem era o ser dominador, viril, macho; a mulher a<br />

dominada, sensível, doce e subjugada. No momento em que a Teiniaguá decidiu dominar e<br />

88 V. Capítulo 1.<br />

95

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!