26.06.2013 Views

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

3 – GÊNERO E REPRESENTAÇÃO CULTURAL<br />

Após termos estudado a questão da <strong>representação</strong> <strong>nos</strong> mitos e personagens da literatura<br />

oral, faz-se necessário ligá-la a uma outra abordagem, que enriquece ainda mais <strong>nos</strong>sa leitura: o<br />

gênero.<br />

Joan Scott (1990, p. 5-22), ao definir gênero, defende que o conceito tem duas partes e<br />

diversas subpartes ligadas entre si, mas que deveriam ser diferenciadas na análise. O núcleo essencial<br />

da definição repousa sobre a relação fundamental entre duas proposições: o gênero é um elemento<br />

constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos; e o gênero é<br />

um primeiro modo de dar significado às relações de poder. E complementa: como elemento<br />

constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas, o gênero implica quatro<br />

elementos: primeiro, os símbolos culturalmente disponíveis que evocam representações simbólicas (e<br />

com freqüência contraditórias) – Eva e Maria como símbolo da mulher, por exemplo, dentro da<br />

tradição cristã ocidental. Maria é o que se entende como exemplo de perfeição a ser seguido pelas<br />

mulheres reais, é um mito de pureza, castidade, humildade (entrega-se de corpo e alma ao plano de<br />

Deus, aceitando ser a mãe de Cristo e suportar todas as conseqüências que o fato poderia gerar), e<br />

Eva, que, ao comer o fruto proibido e convencer Adão a fazer o mesmo, é uma <strong>representação</strong><br />

<strong>feminina</strong> que quebra algumas regras e normas estabelecidas dentro da sociedade cristã, sobretudo<br />

católica. Ela subverte a ordem e leva Adão a entregar-se, a cometer o pecado original (o mais grave<br />

se pensarmos nas normas da Igreja Católica). Por outro lado, temos os mitos da luz e da escuridão, da<br />

purificação e da poluição – que, trazidos para o contexto deste trabalho, repousam na relação Maria<br />

versus Teiniaguá e Corriveau –, da inocência e da corrupção. Grosso modo, as figuras míticas em<br />

questão são vistas na maioria das vezes como seres transgressores, já que sua leitura é feita em<br />

grande parte por uma sociedade de tradição patriarcal predominante. Teiniaguá e Corriveau,<br />

principais mitos do estudo ora apresentado, são mitos de corrupção: corrompem a sociedade da qual<br />

supostamente fizeram parte, corrompem aqueles seres que lhes são colocados em contraponto para<br />

que sua maldade intrínseca seja explicitada e, ainda, mesmo sabendo que as normas sociais devem<br />

69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!