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A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

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contestador. Já a narrativa mítica, por ser uma narrativa de base para a determinação dos<br />

caracteres sociais de um povo, trata de uma verdade que se propõe como absoluta e eterna, uma<br />

verdade determinante. Por fim, a narrativa literária, por ter um autor/narrador que a determina,<br />

ela é aquela que faz uma análise psicológica parcial acerca do herói, enquanto a mítica, estando<br />

no seio de uma coletividade e tendo todo um aporte social, examina o ser humano em sua<br />

totalidade, em suas particularidades, promovendo assim uma análise minuciosa; a narrativa<br />

literária descreve o desenvolvimento de uma ação, enquanto a mítica revela algo de misterioso<br />

e inefável; o sentido, na narrativa literária, é mais ou me<strong>nos</strong> evidente, enquanto na narrativa<br />

mítica é velado, exige uma exegese. A exegese pode ser entendida como a disciplina que aplica<br />

métodos e técnicas que ajudam na compreensão do texto. Do ponto de vista etimológico,<br />

hermenêutica e exegese são sinônimos, mas hoje os especialistas costumam fazer a seguinte<br />

diferença: hermenêutica é a ciência das normas que permitem descobrir e explicar o verdadeiro<br />

sentido do texto, enquanto a exegese é a arte de aplicar essas normas. Segundo Fernando<br />

Nicollazi, com base na teoria de Paul Ricoeur, a hermenêutica é definida como a teoria das<br />

regras que presidem a uma exegese, isto é, à interpretação de um texto singular ou de um<br />

conjunto de sig<strong>nos</strong> passível de ser considerado como um texto. Assim, é a partir de uma tensão<br />

originária que essa prática opera, num sentido que visa tanto à manifestação e à restauração de<br />

um significado (a compreensão do texto pela procura de um sentido) quanto à desmistificação e<br />

à redução da ilusão (suspeita em relação à evidência de um sentido aparente). Em poucas<br />

palavras, trata-se da “inteligência do sentido duplo” contido nas expressões mediadas<br />

simbolicamente. Dessa maneira, o método hermenêutico encontra amparo em uma filosofia<br />

reflexiva, na medida em que seu problema não é, segundo Ricoeur, imposto de fora à reflexão,<br />

mas proposto de dentro pelo movimento mesmo do sentido e pela via implícita dos símbolos,<br />

tomados em seu nível semântico e mítico. Conforme salienta o filósofo, não há mito sem<br />

interpretação, mas também não existe interpretação incontestável.<br />

O notável, no confronto do literário com o mítico, é que o mito associa-se quase sempre<br />

à palavra “narração”. Se considerarmos, no entanto, que a narrativa mítica não se propõe como<br />

ficção, mas exige a crença na verdade do que é contado, poderíamos acrescentar a “narrativa” a<br />

palavra “comportamento”, que enfatiza o aspecto subjetivo do mito.<br />

Tendo em vista as questões relativas às narrativas mítica e literária, <strong>nos</strong>so trabalho versa<br />

sobre dois mitos da literatura oral, inseridos em narrativas literárias, das quais escolhemos<br />

algumas versões para aqui estudar. Assim, cabe tentarmos responder agora: o que é, afinal, um<br />

mito?<br />

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