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A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

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inquisitório, de caça às mesmas. Segundo pregam Kramer e Sprenger (2000, p.10-13), num<br />

mundo teocrático, a transgressão da fé era também a transgressão política. Essa ligação entre<br />

sexualidade e fé se faz presente em ambas narrativas míticas e explica as punições que as<br />

personagens acabam sofrendo; punir as mulheres por transgredirem é o que prega o Malleus<br />

Maleficarum a partir de algumas teses. A primeira delas é a de que o demônio, com a<br />

permissão de Deus, procura fazer o máximo de mal aos homens a fim de apropriar-se do<br />

maior número possível de almas. Além disso, o mal é feito através do corpo, único lugar onde<br />

o demônio pode entrar, pois o espírito do homem é governado por Deus, a vontade por um<br />

anjo e o corpo pelas estrelas. Sendo as estrelas inferiores ao espírito e o demônio um espírito<br />

superior, só lhe resta o corpo para dominar. O domínio, por sua vez, vem através do controle e<br />

da manipulação dos atos sexuais. No caso das representações estudadas, poderíamos dizer que<br />

o demônio é cada uma delas e também está no erotismo da Teiniaguá e no poder de sedução<br />

da Corriveau (já que ela seduziu de dois a sete homens, com os quais se casou). Pela<br />

sexualidade o demônio pode apropriar-se do corpo e da alma dos homens. Foi pela<br />

sexualidade que o primeiro homem pecou, como vimos no próprio mito de Lilith. Portanto, a<br />

sexualidade é o ponto mais vulnerável de todos os homens.<br />

A existência de bruxas e demônios, para Kramer e Sprenger, é uma verdade<br />

inquestionável, a ponto de serem acusados de heresia todos aqueles que não compartilham<br />

dessa opinião. Os dois inquisidores argumentam que não podemos enxergar os efeitos<br />

concretos da bruxaria como manifestações fantásticas ou irreais, visto que acontecem a partir<br />

documento papal sobre a bruxaria. Nela, Sprenger e Kramer são nomeados (Iacobus Sprenger e Henrici<br />

Institoris) para combater a bruxaria no norte da Alemanha, com poderes especiais. Kramer e Sprenger<br />

apresentaram o Malleus Maleficarum à Faculdade de Teologia da Universidade de Colônia (Alemanha), em 9 de<br />

maio de 1487, esperando que fosse aprovado. Entretanto, o clero da Universidade o condenou, declarando-o<br />

tanto ilegal como antiético. Kramer, porém, inseriu uma falsa nota de apoio da Universidade em posteriores<br />

edições impressas do livro. A data de 1487 é geralmente aceita como a data de publicação, ainda que edições<br />

mais antigas da obra tenham sido produzidas em 1485 ou 1486. A Igreja Católica proibiu o livro pouco depois da<br />

publicação, colocando-o na Lista de Obras Proibidas (Index Librorum Prohibitorum). Apesar disso, entre os a<strong>nos</strong><br />

de 1487 e 1520, a obra foi publicada 13 vezes. Entre 1574 e a edição de Lyon de 1669, o Malleus recebeu um<br />

total de 16 novas reimpressões. A suposta aprovação inserida no início do livro contribuiu para sua popularidade,<br />

dando-lhe a impressão de que havia recebido um respaldo oficial. O texto chegou a ser tão popular que vendeu<br />

mais cópias que qualquer outra obra, à exceção da Bíblia, até a publicação d'El Progreso del Peregrino, de John<br />

Bunyan, em 1678. Os efeitos do Malleus Maleficarum se espalharam muito além das fronteiras da Alemanha,<br />

provocando grande impacto na França e Itália, e, em grau menor, na Inglaterra. Embora a crença popular o<br />

consagrasse como o clássico texto católico romano, no que cabia à bruxaria, a obra nunca foi oficialmente usada<br />

pela Igreja Católica. Kramer foi condenado pela Inquisição em 1490, e sua demonologia considerada não acorde<br />

com a doutrina católica. Porém, o livro continuou sendo publicado, usado também por protestantes em alguns de<br />

seus julgamentos contra as bruxas. No Brasil foi publicado pela editora Rosa dos Tempos com o título O martelo<br />

das feiticeiras, sendo esta a edição que utilizamos em <strong>nos</strong>so trabalho. Disponivel em:<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Malleus_Maleficarum Acesso em: 18 nov. 2008.<br />

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