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A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

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– Na floresta de Saint-Vallier. Você se lembra de ter encontrado uma camponesa<br />

que colhia mandrágora? Você tinha sede e ela lhe deu leite. Você estava com os<br />

Selvagens. 64<br />

Foi como um raio no espírito da jovem moça, e uma doce confiança toma<br />

rapidamente conta dela.<br />

– Eu me lembro! Gritou ela. E você estava vestida como agora, absolutamente!... Eu<br />

lhe agradeci pela bondade que você havia então me atestado, sim, eu lhe agradeci!<br />

Ela lhe estendeu a mão.<br />

Por mais que a Corriveau tenha sido tocada por toda a bondade e beleza de Caroline, a<br />

ganância pelo ouro e a vontade de matar pelo mero prazer falaram mais alto. A amizade,<br />

assim, nada mais foi do que uma forma de conquistar confiança para conseguir alcançar seu<br />

objetivo.<br />

A Corriveau juntou a mão dela à sua, mas sem a apertar. Ela permanecia fria,<br />

insensível. Ela replicava, adocicando o quanto fosse possível sua voz rouca, e<br />

mostrando falsa compaixão.<br />

– Eu fui boa para você então, e eu o quero ser ainda hoje. Eu venho para socorrê-la.<br />

Ela sorriu, ainda com seu sorriso diabólico, mas o reprimiu rapidamente.<br />

– Eu não nada mais sou do que uma pobre mulher, disse ela; no entanto, lhe trouxe<br />

um pequeno presente para provar que não a esqueci.<br />

Ela colocou a mão no estojo [...].<br />

– Mas, e o intendente, o que você sabe dele?<br />

O intendente? O rei lhe deu ordens de devolvê-la a seu pai, e ele o fará, a me<strong>nos</strong> que<br />

o governador não o previna... O governador a procura.<br />

Caroline ficou a ponto de desfalecer.<br />

– Meu Deus! Meu Deus! exclamou a jovem vítima, escondendo o rosto sobre as<br />

mãos, que eu não esteja numa sepultura profunda onde só você me verá! Tenha<br />

misericórdia de mim, porque eu não posso esperar mais nada da clemência dos<br />

homens!... Eu mereço minha infelicidade! A morte não é nada; o que é terrível é<br />

saber que minha desgraça não morrerá comigo!<br />

Aqui se percebe que Caroline se conformaria até com a morte face à raiva interior que<br />

sente. Afirmar a condescendência com a morte frente a sua assassina é tudo o que a bruxa<br />

precisava para fazer valer o que objetivava: a morte da jovem.<br />

A Corriveau sorria ainda, seus dedos aduncos acariciavam a pequena garrafa mortal.<br />

O momento se aproxima! o momento se aproxima! murmurava ela entre seus dentes<br />

vene<strong>nos</strong>os.<br />

Caroline deu um passo em sua direção.<br />

– É mesmo verdade tudo o que me diz aqui? repetia ela ainda com voz suplicante...<br />

Como uma estrangeira pode ter tanta informação sobre o assunto?<br />

64 Os selvagens, ou bárbaros, podem aqui ser entendidos como os índios. Os bárbaros, como vimos<br />

anteriormente, são aqueles que vivem à margem da sociedade, por possuírem uma cultura ou língua diferente da<br />

dominante.<br />

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