A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense
A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense
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mesmas se definem no diálogo como consciências infinitas e inacabadas. Isso também<br />
acontece no discurso oral, que provém de várias consciências, salvo que neste caso elas têm<br />
sua definição com base no ambiente social em que o sujeito foi criado.<br />
Pensando <strong>nos</strong> mitos da literatura oral aqui estudados, podemos observar que cada um<br />
deles carrega consigo aspectos histórico-sociais e culturais, já que, mesmo remetendo a um<br />
acontecimento originado no imaginário, sustentado por meio da realidade, não pode surgir<br />
apenas de elementos estéticos, pois, para percebê-lo, é preciso relacioná-lo ao real. É a partir<br />
do diálogo entre o real e o estético, autor e personagem, que se configuram as diferentes vozes<br />
dentro de um romance. Na narrativa oral isso também acontece; entretanto, o diálogo dá-se<br />
entre real e imaginário, entre a consciência e o social. O diálogo entre autor e personagem vai<br />
acontecer no momento em que essa narrativa oral passar à narrativa literária. Conforme os<br />
pressupostos bakhtinia<strong>nos</strong>, portanto, a polifonia é uma relação que se estabelece entre “n”<br />
participantes sociais, decorrente da dimensão do signo ideológico, que coloca diversas<br />
posições em choque, aliança, complementação, oposição.<br />
2.3 – A CULTURA ORAL E A VOZ<br />
Paul Zumthor (2005, p. 117) define oralidade como um termo histórico que designa<br />
um fato referente às modalidades de transmissão: significa que uma mensagem é transmitida<br />
por intermédio da voz a um ouvinte. Vocalidade, por sua vez, está ligada a uma noção<br />
antropológica, não-histórica, relativa aos valores que estão encadeados à voz como voz e,<br />
portanto, encontram-se integrados ao texto que ela transmite. O caráter de vocalidade se faz<br />
presente ao pensarmos na narrativa oral como um todo, já que ela é uma junção de valores<br />
sociais e psicológicos; na medida em que uma pessoa relata um fato, acrescenta a ele suas<br />
vivências e torna-o atual e transformado de acordo com aquilo em que ela acredita.<br />
A oralidade é, então, um fato transmitido a partir da voz de uma pessoa, da<br />
manifestação de fala de uma pessoa ao ouvido de outra. É, em suma, a concretização de um<br />
ato comunicativo. A vocalidade, por sua vez, é um ato intencional de transmissão de uma<br />
mensagem. A boca que fala leva ao ouvido que escuta a mensagem que quer passar, e a<br />
informação, na maioria das vezes, aparece sob a forma de interditos ou normas sociais, as<br />
quais a coletividade pretende legitimar.<br />
A tradição oral situa-se justamente na duração dos acontecimentos, ligada ao modo pelo<br />
qual as histórias são contadas e ao caráter real e maravilhoso, se pensarmos que os fatos são<br />
passados diretamente da memória do contador para o interlocutor e, por serem subjetivos,<br />
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