A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense
A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense
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Cristo. Os peque<strong>nos</strong> e delicados amigos são, por sua vez, todos os pecadores que se reúnem<br />
num mesmo lugar a fim de se sentirem mais à vontade para realizar suas maldades.<br />
– Meu querido François, responde a bruxa, me é impossível passar o Saint-Laurent,<br />
que é um lago bendito, sem o auxílio de um cristão.<br />
Para a Teiniaguá, era impossível ser libertada da lagoa efervescente na qual o Diabo a<br />
tinha aprisionado; quem a tirou de lá foi o sacristão que, com seus poderes de religioso, era o<br />
único capaz de, naquele momento, libertá-la do castigo. Para a Corriveau, seu castigo maior<br />
era estar afastada de todos os seus iguais, com os quais ela podia se realizar enquanto bruxa e<br />
só quem poderia libertá-la era François. No entanto, ele é resistente aos encantos da<br />
personagem e a ignora de todas as maneiras. Vejamos sua resposta à súplica da Corriveau:<br />
– Passa como podes, satanás engaiolado, disse meu defunto pai, passa como podes,<br />
cada um por si. Ah! Sim! Conta que eu te levarei para dançar com teus queridos<br />
amigos, mas te levarei como um cachorro que arrasta sua bela gaiola que terá<br />
extirpado todas as pedras e todos os pedregulhos do caminho do rei...<br />
Ao falar em “cada um por si”, ele está renegando todas as ofertas feitas pela Corriveau<br />
com o intuito de convencê-lo a ajudá-la; ele sabe que ajudar essa <strong>representação</strong> do mal não é<br />
algo que vá verdadeiramente lhe trazer vantagens. A negação de François pode assim ser<br />
comparada à negação de Blau quando do momento de sua passagem pelas sete provas do<br />
Jarau 53 . Essas, todavia, foram expostas de forma mais direta que as da Corriveau; entretanto,<br />
têm o mesmo objetivo de corromper, utilizando-se da ganância, característica bastante<br />
presente <strong>nos</strong> huma<strong>nos</strong> e usada nas narrativas como forma de representar o real.<br />
O tambor-maior termina, enfim, e rapidamente, de bater o compasso sobre sua<br />
panela. Todas as bruxas se juntam e dão três gritos, três gemidos, como fazem os<br />
selvagens quando cantam e dançam “a guerra”, essa dança e essa música pelas quais<br />
eles anunciam sempre uma expedição guerreira. O tambor – a ilha balança até suas<br />
bases. Os lobos, os ursos, todos os animais ferozes, as bruxas da montanha do norte<br />
se juntam e os ecos se repetem até as florestas que orlam o rio Saguenay.<br />
O tambor-maior pode ser, no contexto de <strong>nos</strong>sa análise, comparado ao barulho que faz<br />
a Teiniaguá no momento em que ela descobre a pena proferida ao Santão por ter-se envolvido<br />
com ela. Assim, ela vai abrindo sulcos na terra até chegar à igreja e interromper o garrotear do<br />
sacristão. Ouve-se, a seguir, um estrondo muito grande, produzindo muito fogo, fumaça, e<br />
53 ver as provas, p.14.<br />
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