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A representação feminina nos lendários gaúcho e quebequense

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valente que o seu! Você pede a morte de uma mulher que não temeu acender em<br />

sua alma o inferno e o ciúme, e você quer que eu lhe indique a melhor forma de se<br />

vingar!<br />

– Eu quero que você mesma me vingue!, afirmou Angélique com voz impaciente.<br />

Ela estava cansada de todos esses problemas; era preciso ir. E acrescentou num tom<br />

mais conciliador:<br />

– E eu lhe recompensarei dignamente, magnificamente.<br />

– Matar um homem ou uma mulher é sempre um prazer, mesmo quando sem um<br />

motivo pessoal, responde a Corriveau com cinismo; mas não sei por que correrei<br />

riscos por você, Senhorita des Meloises. Você tem ouro o suficiente para cobrir os<br />

riscos?<br />

À parte a ameaça que, como já vimos, desperta na Corriveau o respeito e a admiração<br />

por quem a procura, nota-se a arrogância da bruxa ao perguntar a Angélique se ela sabe com<br />

quem está falando; arrogância própria de uma figura <strong>feminina</strong> que sabe bem quem é, o que<br />

quer e tem orgulho de tudo isso. Corriveau é bastante perspicaz ao perceber que a procura de<br />

Angélique se dá pelo inferno e pelo ciúme que a rival causou em sua alma. Contudo, em um<br />

primeiro momento, não acredita que a sua missão será tão prazerosa, na medida em que<br />

imagina a figura <strong>feminina</strong> querendo os meios para vingança, enquanto o que ela quer<br />

verdadeiramente é ser vingada pela Corriveau. O cinismo é mais uma marca forte na<br />

Corriveau e ela o demonstra no momento em que define como prazeroso matar um homem ou<br />

uma mulher, mesmo que não tenham nenhum tipo de relação com ela. Assim, e visto que já<br />

foi condenada pela morte de dois maridos, cometer mais um assassinato, mesmo sendo um ato<br />

de muito prazer, exigiria que ela fosse bastante bem recompensada para valer tamanho risco.<br />

O gelo foi quebrado, completamente rompido; Angélique podia falar agora, botar as<br />

cartas na mesa.<br />

– Senhora Dodier, assegurou ela, eu lhe daria mais ouro do que você imagina, mais<br />

do que você jamais viu.<br />

– É possível, senhorita, é possível; mas, veja você, sou velha e não confio em<br />

ninguém. Dê-me um sinal de sua sinceridade, por favor, antes de falar qualquer<br />

outra coisa. Negócios são negócios!<br />

Para a Corriveau, matar não tem significado de transgressão; além de prazer, é um<br />

negócio. Ela age, portanto, como fria assassina de aluguel, negociando, fazendo exigências e<br />

pedindo provas de que lhe será vantajoso o negócio.<br />

Ela esticou as duas mãos.<br />

– Um sinal? Do ouro?, replicou Angélique: sim, Corriveau, sim! Eu vou ligá-la a<br />

mim por um colar de ouro. Eu não contarei; ninguém contou para mim. Você se<br />

tornará a mulher mais rica de Saint-Vallier, a mais rica camponesa da Nova-França!<br />

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