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TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS

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não só o domínio das variedades, mas também a capacidade de adequar a expressão<br />

linguística ao contexto. Daí dizer-se que todo falante é um camaleão linguístico.<br />

E são vários os condicionantes desse processo de ajuste e adequação. Levamos em<br />

conta, por exemplo, as características dos nossos interlocutores (conhecidos/desconhecidos;<br />

mais velhos ou mais novos; acima ou abaixo nas muitas hierarquias<br />

sociais) e do próprio evento (o fato de acontecer na intimidade ou no espaço público;<br />

de envolver um pequeno público ou um público amplo; de ser informal ou formal;<br />

de ser atividade falada ou escrita, etc.).<br />

O falante, obviamente, não precisa sempre se ajustar às expectativas sociais. Ele pode<br />

romper com elas para alcançar os mais diferentes efeitos de sentido: humor, ironia, crítica,<br />

etc. Pensemos, por exemplo, no conferencista que, de repente, usa, em meio à sua fala<br />

formal, um termo da gíria para produzir humor e, com isso, dar um momento de descanso<br />

a seus ouvintes. Ou pensemos ainda no impacto sociocultural que foi a decisão dos poetas<br />

modernistas de usar variedades linguísticas coloquiais na escrita de poesia, rompendo,<br />

portanto, com a tradição que só admitia os chamados estilos elevados no texto poético.<br />

Como falantes, somos, então, camaleões (adequamos nossa expressão linguística à<br />

situação), mas somos também capazes de romper com as expectativas, explorando a<br />

variação linguística para produzir sentidos inesperados seja no nosso cotidiano seja<br />

até mesmo em grandes projetos estéticos.<br />

Nesse sentido, a língua é, ao mesmo tempo, espaço de restrição (as suas estruturas<br />

e as suas condições de uso limitam nossas possibilidades expressivas) e espaço de<br />

liberdade (a língua nos põe à disposição um conjunto de opções léxico-estruturais<br />

e de variedades sociais que podemos aproveitar expressivamente na construção e<br />

individualização do nosso dizer).<br />

2. O modelo dos três contínuos<br />

No trato da diversidade do português do Brasil e para dar conta de sua enorme<br />

complexidade, temos utilizado hoje um modelo de três contínuos inter-relacionados,<br />

desenvolvido pela professora Stella Maris Bortoni, da Universidade de Brasília: o contínuo<br />

rural/urbano, o contínuo oralidade/letramento e o contínuo da monitoração. 1<br />

1. Ver, entre outros trabalhos, “Um modelo para a análise sociolinguística do português brasileiro”, publicado no livro Nós cheguemu<br />

na escola, e agora? – Sociolinguística e educação. São Paulo: Parábola, 2005, p. 39-52.<br />

<strong>TEXTOS</strong> <strong>DISSERTATIVO</strong>-<strong>ARGUMENTATIVOS</strong>: SUBSÍDIOS PARA QUALIFICAÇÃO DE AVALIADORES<br />

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