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TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS

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por aí’. Será de admirar que ‘o público permaneça indiferente à poesia’?” Será que a<br />

crítica de Pound cai bem só aos poetas? Sem se considerar essas três dimensões do que<br />

se chama aqui precariamente de compromisso ético do escritor, dificilmente se exercerá<br />

tal mister com consciência e responsabilidade (TORRES, 2009, p. 2).<br />

Quem escreve assume diante da sociedade um compromisso ético e político. Nesse<br />

sentido, quem escreve não pode desconhecer também a dimensão política do ofício.<br />

O barateamento do escritor, que testemunhamos nos dias de hoje, coloca no centro<br />

das discussões acadêmicas a noção da autoria, construída, segundo Possenti (2002),<br />

a partir dos conceitos de locutor (o falante como senhor absoluto do que diz) e de<br />

singularidade (a presença peculiar do autor no texto), um conceito cunhado no âmbito<br />

das teorias da comunicação.<br />

A noção de autor foi objeto de reflexões do pensador francês Michel Foucault (1992),<br />

que questionou a ideia de que o autor é dono absoluto de sua obra.<br />

Com aparente circularidade, é a noção de autor que, entre outros aspectos, permite que<br />

se fale de uma obra, especialmente em decorrência de determinada propriedade que as<br />

obras têm (teriam), a de se caracterizarem por uma certa unidade. Ora, é exatamente a<br />

figura do autor que confere essa unidade a uma obra. Mas fique claro que, para Foucault,<br />

a noção de autor é discursiva (isto é, o autor é de alguma forma construído a partir de<br />

um conjunto de textos ligados a seu nome, considerado um conjunto de critérios, dentre<br />

eles sua responsabilidade sobre o que põe a circular, um certo projeto que se extrai da<br />

obra e que se atribui ao autor etc.), daí porque ele distingue tão claramente a noção de<br />

autor da de escritor (POSSENTI, 2002, p. 107).<br />

Para Foucault (1992 apud POSSENTI, 2002, p. 107), “a noção de autor se constitui a<br />

partir de um correlato à noção de obras” , ou seja, só temos um autor se tivermos uma<br />

obra cuja autoria possa ser atribuída a ele. A noção de autor para Foucault é discursiva.<br />

Desse ponto de vista, além de ter um conjunto de textos atribuído a ele, é necessário<br />

que este assuma a responsabilidade (político/social) sobre o que põe a circular na<br />

sociedade. Remontando às ideias de Foucault sobre autoria, pode-se considerar como<br />

autor o proprietário da obra literária, a pessoa que goza dos privilégios trazidos pelo<br />

reconhecimento mercadológico.<br />

Schneider (1990) contesta a questão da originalidade da criação literária, lembrando que,<br />

ao longo da história, a escrita, mesmo a dos grandes mestres, prescinde de textos que<br />

já foram escritos por outros autores. Para ele, a apropriação ou empréstimo de textos<br />

anteriores colocaria em dúvida a originalidade e com ela a autoria das obras literárias. Esse<br />

ponto de vista é o pano de fundo da discussão de Schneider sobre plágio, tema central de<br />

seu ensaio. Segundo ele, a intertextualidade é uma forma de plágio, mas é admitida como<br />

um procedimento de escrita comumente adotado por muitos intelectuais. O procedimento<br />

A AVALIAÇÃO DOS INDÍCIOS DE AUTORIA<br />

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