TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS
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Conscientemente ou não, o autor soma o “cabo de guerra” ao “bombardeamento”<br />
para construir uma hipérbole que demonstra o exagero de propagandas direcionadas<br />
à criança. Vale destacar que, enquanto pesquisávamos textos para este ensaio,<br />
encontramos repetidamente os termos “bombardear” ou “bombardeamento”. Talvez<br />
porque haja um senso comum bem estabelecido, ainda que implicitamente, sobre o<br />
que significa a ideia, os autores lançam mão dessa hipérbole para se fazerem mais<br />
claros aos interlocutores.<br />
Por outro lado, as variadas metonímias utilizadas no texto conferem objetividade<br />
ao raciocínio. Em geral, nos textos pesquisados, a relação vai do todo para a parte,<br />
por isso é comum encontrar as sentenças “países proíbem”, “ONGs criticam”, “a<br />
publicidade usa propagandas” e “as pessoas consomem a marca”. Como já tratamos<br />
antes, o uso de metonímias não é isolado nem tem como objetivo final a persuasão;<br />
em verdade, elas aproximariam o leitor do argumento e proporcionariam um texto<br />
conciso, pois assim o interlocutor acessaria mais rápido o conteúdo.<br />
Exemplo 3<br />
Tenho, logo existo<br />
Um dos maiores filósofos da Grécia antiga, Sócrates, defendera a ideia de que não adiantava<br />
viver sem reflexão, logo, uma pessoa era reconhecida e exaltada pelo que pensava; por isso<br />
instigava seus seguidores a questionarem as informações recebidas e não somente acatá-las e<br />
se modelarem a elas. Hoje observa-se uma inversão de valores que aborda as crianças, sobretudo<br />
as brasileiras, que são arrastadas pela mídia repleta de publicidade de ostentação para<br />
um mundo de consumo desenfreado no qual o “ter” é superior ao “ser”.<br />
Nesta realidade não é difícil encontrar birras e ataques de desespero de crianças em lojas e<br />
supermercados fazendo escândalo quando querem algum produto que os pais não compram.<br />
Esta atitude é causada porque a criança cria um estereótipo baseado em personagens de<br />
novelas, filmes e desenhos, e desse modo constroem sua identidade. Além de que ao desfilarem<br />
na escola com novos produtos se sente exaltada, reconhecida e mais aceita nos grupos sociais.<br />
A publicidade usa desde cartazes com personagens de momento, músicas feitas a partir de<br />
estudos neuropsíquicos com letras e arranjos difíceis de serem esquecidos, até novos produtos<br />
usados por essas personagens na TV. São verdadeiros vilões criando robozinhos para consumirem<br />
desde cedo com suas mentes educadas na escola do consumo.<br />
Essa situação também leva a um status social que já surge na infância: quem tiver o brinquedo<br />
mais atual ganha o título transparente de superior. Esse é o tipo de conceito que se leva para<br />
a vida, passando da boneca moderna para o celular, na adolescência, e depois para o carro de<br />
linha, na vida adulta.<br />
Com isso o país vem se tornando um país hipócrita, embarcado pela ostentação, de pessoas<br />
voláteis e vazias, sem pensamento crítico e fáceis de serem moldadas. Algumas intervenções<br />
podem ser aplicadas para diminuir este efeito, são elas: escolas devem voltar com o uniforme<br />
completo obrigatório; proibição de mensagens subliminares em propagandas infantis; limite de<br />
tempo na televisão para essas propagandas. Assim, o país pode caminhar para uma sociedade<br />
mais crítica e menos fútil, respeitando o direito do “ter” sem diminuir o valor do “ser”.<br />
A CONSTRUÇÃO DO ARGUMENTO COM FIGURAS RETÓRICAS EM <strong>TEXTOS</strong> <strong>DISSERTATIVO</strong>-<strong>ARGUMENTATIVOS</strong><br />
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