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TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS

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de Carlo Ginzburg (1989, p. 151), capaz de “ler nas pistas mudas uma série coerente<br />

de eventos”, é lícito concluir que, no ato de leitura, pode-se atribuir sentido às pistas<br />

que se encontra. Dessa maneira, quem se dispõe a avaliar criticamente o texto na<br />

sua construção vai inevitavelmente buscar, entre outros, os indícios que contribuem<br />

para a determinação da originalidade daquele texto. É assim que se separa o texto<br />

que é apenas repetição do que já foi dito com uma já desgastada relação entre forma<br />

e conteúdo de um texto que apresenta alguma novidade, com informações originais<br />

ou que se articulam em uma estrutura original. Rimar amor e dor ou amor e flor, por<br />

exemplo, é, hoje, um lugar-comum que reproduz um sem-número de outros textos<br />

já escritos e publicados no universo da lírica amorosa.<br />

Um aspecto importante a ser considerado nessa discussão sobre originalidade é o<br />

caráter provisório que ela assume. O uso – e o abuso – de uma determinada informação<br />

ou de uma dada estrutura formal pode tornar o que já foi original um clichê,<br />

isto é, uma estrutura cristalizada, pronta, na qual se torna difícil encontrar a marca<br />

singular e pessoal de quem escreve: a autoria. As transformações históricas que se<br />

inscrevem na linguagem, e das quais ela também é agenciadora, em uma relação<br />

dialética, fazem com que os valores atribuídos ao que se compreende como marcas de<br />

autoria também se transformem. Sírio Possenti (2002, p. 121) sumariza essa questão<br />

da seguinte forma:<br />

há indícios de autoria quando diversos recursos da língua são agenciados mais ou menos<br />

pessoalmente – o que poderia dar a entender que se trata de um saber pessoal posto a<br />

funcionar segundo um critério de gosto. Mas, simultaneamente, o apelo a tais recursos<br />

só produz efeitos de autoria quando agenciados a partir de condicionamentos históricos,<br />

pois só então fazem sentido.<br />

A discussão sobre a autoria de um texto tem diversas dimensões: jurídica, filológica,<br />

discursiva, filosófica, poética, entre outras. Evidentemente, não se trata de categorias<br />

estanques, pois existem imensas áreas de intercessão entre elas. Porém, considerando<br />

cada uma delas, e sempre tendo em vista a articulação entre forma e conteúdo, o enfoque<br />

se transforma: juridicamente, por exemplo, a preocupação é com o sujeito civil que se<br />

constitui autor; filosoficamente, por outro lado, com o sujeito do pensamento; discursivamente,<br />

com o aspecto singular de uma subjetividade que emerge do texto.<br />

Quando tratamos da avaliação de textos escolares, a dimensão discursiva é a que<br />

assume o primeiro plano. Nesse sentido, na tentativa de encontrar os indícios de<br />

autoria em uma redação, busca-se enxergar a marca pessoal do sujeito que está por<br />

detrás desse discurso, dando-lhe coerência, algo como um “ser de razão”, como define<br />

ORIGINALIDADE E CONSCIÊNCIA DA ESCRITA: INDÍCIOS DE AUTORIA NA ARGUMENTAÇÃO EM <strong>TEXTOS</strong> ESCOLARES<br />

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