TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS
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de hesitar. A escolha linguística de um ato ilocucional de pergunta, segundo Ducrot<br />
(1997), serve para conseguir a adesão do interlocutor ao que está sendo pressuposto<br />
pelo locutor, o qual, já convencido de que seu ponto de vista foi aceito, faz uso de<br />
verbos na primeira pessoa do plural – “assistimos”, “mostramos” – para, modestamente,<br />
obrigar o leitor a comungar de seu ponto de vista. O locutor ainda assevera<br />
que são mensagens de preconceito e de violência e comportamentos estereotipados<br />
que influenciam diariamente o comportamento das crianças. A retomada da ideia de<br />
manipulação das crianças ao consumo é reativada na ancoragem feita pela expressão<br />
pronominal “além disso”, que acrescenta às ideias já apresentadas anteriormente a<br />
necessidade de se repensar a manipulação da mídia sobre as crianças.<br />
A proposição, já suficientemente definida e limitada, é novamente retomada no terceiro<br />
parágrafo, com a afirmação de que toda a sociedade é influenciada pelos efeitos<br />
ideológicos das propagandas. Essa opinião é reafirmada pelo locutor ao citar o ponto<br />
de vista de uma autoridade no assunto, Jean Baudrillard, cuja obra A sociedade do<br />
consumo constitui uma das principais contribuições para a sociologia contemporânea.<br />
Citar esse autor é garantir credibilidade à tese, pois nesse livro Jean Baudrillard faz<br />
uma análise profunda e estimulante do consumo, atribuindo a este o rótulo de “novo<br />
mito tribal”, nova moral do mundo contemporâneo. Com o uso do plural de modéstia,<br />
novamente o locutor, apoiado na tese de Baudrillard, defende que toda a sociedade é<br />
refém de necessidades criadas pela mídia. Todos, segundo o locutor, mesmo os adultos,<br />
consumimos movidos pelo impulso dado pela mídia e não por nossa real necessidade<br />
de aquisição daquele bem ou produto. O conteúdo proposicional do argumento de<br />
autoridade envolve dimensões conceituais, cognitivas e pragmáticas, que auxiliam na<br />
coerência de uma argumentação que deve conduzir o leitor à conclusão pretendida.<br />
No caso específico da redação analisada, a veracidade da tese de que as crianças<br />
são mais vulneráveis às influências midiáticas que os adultos foi fundamentada no<br />
reconhecimento do avanço na proibição de certas propagandas. Como o locutor considera<br />
insuficiente essa conquista, assume, juntamente com outros enunciadores,<br />
o compromisso de cobrar dos órgãos competentes a regulamentação (externa) da<br />
publicidade infantil. O locutor acrescenta que o Brasil deve seguir o exemplo de outros<br />
países, que criaram meios de proteger suas crianças de mensagens manipuladoras.<br />
Essas atitudes são o pano de fundo para que se questione se já não está na hora de se<br />
analisar se é adequada a produção de propagandas infantis em solo brasileiro, por isso<br />
o locutor reitera a necessidade de uma “regulamentação externa”. Para dar ainda mais<br />
credibilidade às suas afirmações, nesse trecho o locutor se distancia ou desaparece<br />
quase completamente com o uso do verbo na terceira pessoa. Essa é uma estratégia<br />
<strong>TEXTOS</strong> <strong>DISSERTATIVO</strong>-<strong>ARGUMENTATIVOS</strong>: SUBSÍDIOS PARA QUALIFICAÇÃO DE AVALIADORES<br />
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