TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS
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Ao lado das técnicas de persuasão, a eficácia da argumentação também é garantida<br />
pela propriedade do emprego e pela diversidade dos operadores e conectivos argumentativos.<br />
Trabalhando no quadro da semântica da enunciação, Ducrot desenvolve,<br />
juntamente com J. C. Anscombre, um trabalho sobre a argumentação. Basicamente,<br />
para a semântica da enunciação, herdeira do estruturalismo, a realidade é uma ilusão<br />
criada por meio da linguagem. Enquanto a significação é estável e determinada<br />
pela gramática (autonomia e arbitrariedades saussureanas), o sentido é instável e<br />
construído no aqui e agora (hic et nunc) da enunciação. A ideia é a de que quando<br />
falamos criamos uma realidade de cuja existência tentamos convencer nos confrontos<br />
intersubjetivos. Partindo, então, da visão de que, mais do que instrumento de comunicação,<br />
a linguagem é instrumento de ação, Ducrot desenvolve sua teoria sobre a<br />
argumentação. Nela, o autor constrói a hipótese de que o valor argumentativo dos<br />
enunciados é determinado pelas expressões linguísticas de nível seguinte mais baixo,<br />
e assim sucessivamente, em um movimento bottom-up, levando-se, obviamente, em<br />
consideração a situação de fala (DUCROT, 1987, p. 139).<br />
Portanto, a descrição da orientação argumentativa satisfatória de determinada expressão<br />
precisa considerar as instruções fornecidas pelos elementos gramaticais. As<br />
instruções para a interpretação de qualquer enunciado estão na própria língua. Já<br />
os efeitos de sentidos produzidos são decorrentes de leis retóricas localizadas em<br />
um componente pragmático – o que não significa que para se compreenderem os<br />
efeitos de sentido observados nos enunciados no momento de sua enunciação não<br />
seja preciso recorrer a uma descrição linguística. Na verdade, os efeitos de sentido<br />
produzidos por leis retóricas seriam restringidos pela gramática. Daí a importância<br />
de mecanismos gramaticais, como os operadores argumentativos e os conectivos<br />
lógicos, na construção da argumentação. Ducrot avança ainda mais na questão da<br />
argumentação na linguagem ao mostrar como os operadores argumentativos distribuem<br />
os argumentos segundo uma escala argumentativa.<br />
A noção de escala argumentativa, desenvolvida por Oswald Ducrot, explica o funcionamento<br />
dos operadores argumentativos em sua função de introduzir argumentos<br />
(P, P’, P’’ etc.) que convençam em direção a uma conclusão R. Argumentos que<br />
orientam para a mesma conclusão R formam uma classe argumentativa. Nela, os<br />
enunciados podem estar organizados em uma escala, que distribui os argumentos<br />
positivos ou negativos conforme uma gradação de força. Diferentes trabalhos<br />
contribuem para a descrição da força dos elementos gramaticais em uma escala<br />
argumentativa (KOCH, 2000, 2008; MAINGUENEAU, 1997). Operadores como<br />
“até”, “mesmo”, “até mesmo” e “inclusive” introduzem argumentos positivos mais<br />
<strong>TEXTOS</strong> <strong>DISSERTATIVO</strong>-<strong>ARGUMENTATIVOS</strong>: SUBSÍDIOS PARA QUALIFICAÇÃO DE AVALIADORES<br />
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