TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS
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2. Os gêneros escolares<br />
A natureza sócio-histórica dos gêneros e sua função tipificadora das práticas de<br />
linguagem, nas diversas esferas de atividade humana, possibilitam o surgimento<br />
de padrões textuais que servem à organização e ao funcionamento de diferentes<br />
instituições. A instituição social escola produz gêneros que organizam e controlam<br />
seu funcionamento administrativo e pedagógico, como o registro de matrícula dos<br />
alunos, o histórico escolar, o diário de classe, a lista de presença, o boletim. Há<br />
ainda gêneros constitutivos das ações de linguagem que integram o processo de<br />
ensino-aprendizagem, como o dever de casa, o exercício, o questionário, a ficha, o<br />
resumo, a pesquisa, a prova e a redação, entre outros. Todos eles definem padrões<br />
para ações recorrentes no funcionamento cotidiano da escola.<br />
Nesse sentido, não se pode duvidar que a redação escolar é um gênero.<br />
Beth Marcuschi (2007, p. 64) considera que a redação escolar se configura como um<br />
“macrogênero” que abarca as subcategorias “redação endógena ou clássica” – que<br />
nasce e circula quase que exclusivamente dentro da escola – e “redação mimética” –<br />
que traz para a sala de aula modelos de gêneros que circulam externamente à escola<br />
e os toma como objetos de ensino, mas numa situação que apenas imita sua efetiva<br />
trajetória e suas funções. Vou considerar aqui apenas a chamada redação endógena<br />
ou clássica, que se manifesta, tradicionalmente, como padrão textual em três modalidades<br />
distintas: a descrição, a narração e a dissertação.<br />
São conhecidas as condições de realização da redação clássica. A partir de um tema –<br />
trabalhado ou apenas sugerido –, os alunos escrevem seguindo um modelo prévio de<br />
estrutura composicional e usando um estilo de linguagem considerado adequado, para<br />
atender ao propósito pedagógico de aprender a escrever. Trata-se de um propósito<br />
escolar legítimo, como acentua Beth Marcuschi, em geral explicitado para os alunos:<br />
a tarefa é escrever de acordo com o que o professor propõe como certo e desejável,<br />
para obter uma avaliação positiva, uma boa nota. A interação se dá entre a função<br />
aluno e a função professor, numa ação endógena e ritualizada.<br />
Essa prática sugere algumas considerações. A primeira delas, de acordo com Schneuwly<br />
e Dolz (1999), é o “desaparecimento da comunicação”. Na cena discursiva, não se veem<br />
interlocutores empenhados em dizer alguma coisa ou em compreender a palavra do<br />
outro, escolhendo o gênero mais adequado para se expressar naquela circunstância,<br />
de modo a cumprir determinado objetivo e produzir determinados efeitos. Apaga-se<br />
a dimensão discursiva do texto produzido.<br />
REDAÇÃO ESCOLAR: UM GÊNERO TEXTUAL?<br />
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