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TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS

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Teorias pragmáticas ou discursivas em geral aderem a essa tese. Segundo elas, há<br />

sentidos que não são literais. A maneira mais fácil de sustentar que essa tese tem<br />

sentido é mostrar que, às vezes, muitas vezes, diz-se uma coisa para que o ouvinte/<br />

leitor entenda outra e que é esta outra coisa que, de fato, interessa. O que é dito<br />

expressamente parece ser, às vezes, uma espécie de muleta para dizer o que de fato<br />

importa, o que de fato se quer dizer.<br />

As teorias pragmáticas, assim como as semânticas, frequentemente analisam frases<br />

comuns, do dia a dia. Esta estratégia tem três razões:<br />

1) uma é para que as teses sejam mais bem compreendidas por todos (se<br />

os exemplos fossem enunciados ou psicanalíticos ou mesmo religiosos<br />

ou literários, a questão da interpretação poderia ser mais complicada);<br />

2) outra razão é que se quer mostrar que a questão do sentido não é relevante<br />

apenas para os campos tradicionalmente considerados profundos,<br />

e, portanto, não é apenas uma questão de especialistas, mas de<br />

qualquer falante;<br />

3) a terceira razão é que, na língua falada, a probabilidade de haver sentidos<br />

“implícitos” é maior.<br />

O que é um implícito? “Implícito” é um enunciado (ou um sentido) que não é expressamente<br />

(explicitamente) formulado e, no entanto, deve ser descoberto pelo leitor/<br />

ouvinte para que o que foi enunciado faça sentido. Em geral, há alguma garantia de<br />

que o sentido não dito, implícito, pode ser compreendido por todos. Pelo menos, por<br />

todos os que partilham a mesma língua e a mesma cultura ou as mesmas informações.<br />

Alguns exemplos: numa casa (ou num país) em que se almoça ao meio-dia, se alguém<br />

da família diz “são 12 horas / é meio-dia / já é meio-dia”, é bem provável que o<br />

implícito seja um dos seguintes: “venham almoçar”, “Maria, ponha a mesa”, “ainda<br />

bem que já vamos comer” etc. Se, na última semana, a vovó tiver marcado uma visita<br />

e informado que o ônibus dela chega ao meio-dia, a mesma frase pode ter como<br />

implícito “vá buscar a vovó / você já está atrasado”.<br />

Há implícitos que são verdadeiras figuras de linguagem, como é o caso dos lítotes<br />

(dizer menos para significar mais). Por exemplo: “— O que você achou do livro?”<br />

“— O primeiro capítulo é bom” (de fato, significa “não gostei muito do restante / o<br />

livro não é [muito] bom”). Outro exemplo é a ironia, caso em que o sentido é diferente<br />

NOTAS SOBRE SEMÂNTICA ARGUMENTATIVA<br />

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