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TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS

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fortes. A mesma força argumentativa, mas com sentido negativo, é produzida por<br />

operadores como “nem”, “nem mesmo”. Já expressões como “ao menos”, “pelo menos”<br />

e “minimamente” operam sobre o sentido dos enunciados nos quais aparecem<br />

introduzindo argumentos positivos mais fracos. O papel de elementos gramaticais<br />

como “e”, “também”, “não só... mas também”, “tanto... como”, “além disso”, “a par<br />

de” etc. é introduzir, conforme o caso, argumentos positivos ou negativos que possuem<br />

a mesma força na escala argumentativa. Os termos gramaticais “um pouco” e<br />

“pouco” atuam como operadores que distribuem argumentos em pontos opostos de<br />

uma escala. Os efeitos de sentido produzidos por “um pouco” e “pouco” provêm da<br />

sua separação feita pela própria língua. Operadores de totalidade como “quase”, por<br />

um lado, e “apenas” e “só”, por outro lado, introduzem argumentos orientados para<br />

a afirmação da totalidade e para a negação da totalidade, respectivamente. Por fim,<br />

operadores como “já”, “ainda”, “também” e “agora” permitem tomar como pressuposto<br />

a verdade da informação, introduzindo argumentos que podem ser deixados<br />

à margem do discurso. Os operadores de pressuposição têm como efeito fazer agir,<br />

neste caso, como se conhecêssemos o assunto mesmo se não o soubéssemos antes<br />

de sua enunciação.<br />

A negação sentencial é outro operador da língua utilizado na argumentação (DUCROT,<br />

1987). A negação coloca na cena discursiva enunciadores caracterizados por atitudes<br />

antagônicas. O jogo de posições enunciativas diferentes explica o caráter polifônico<br />

da negação sentencial. Particularmente, na negação polêmica, que corresponde à<br />

maior parte dos enunciados negativos, encontra-se um locutor que assimila o segundo<br />

enunciador, opondo-se ao primeiro enunciador. De modo geral, tem-se que, na negação,<br />

o locutor não adere ao ponto de vista polifonicamente introduzido, ocorrendo,<br />

então, o choque entre as perspectivas de dois enunciadores diferentes. Nas situações<br />

enunciativas criadas pelos conectivos, o locutor pode assimilar, em algum grau, o<br />

enunciador polifonicamente introduzido.<br />

Os conectivos participam da construção da argumentação tanto por meio da progressão<br />

lógica dos assuntos e dos temas tratados no texto, quanto mediante a promoção<br />

da manutenção, do deslizamento e da ruptura de sentidos. Os elos semânticos que<br />

criam atuam sobre os conteúdos postos dos enunciados, mascarando um jogo de<br />

intertextualidades. É justamente na intertextualidade, mascarada muitas vezes em um<br />

jogo de vozes sociais implícitas, que se desenvolve a polifonia, um conceito adaptado<br />

da música para a literatura.<br />

O russo Mikhail Bakhtin utiliza o termo polifonia para se referir às várias vozes, ou<br />

seja, aos diferentes pontos de vista que o autor expressa em sua obra, principalmente<br />

A AVALIAÇÃO DO EMPREGO DE OPERADORES E CONECTIVOS <strong>ARGUMENTATIVOS</strong><br />

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