TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS
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do sentido literal do que é dito. A expressão “seu sabichão” pode significar “seu bobo”;<br />
“pobre gosta de morar mal, de comer mal, não gosta de ler nem de ir ao teatro”.<br />
Significa “não tem condições de ter casa boa, empregada, comida boa” etc. (retomo<br />
de memória passagens de uma crônica de L. F. Veríssimo).<br />
1. Implícito e argumentação<br />
Ducrot e Anscombre desenvolveram, na década de 1970, uma teoria que chamaram<br />
de semântica argumentativa (o autor sempre relacionado à teoria é Ducrot). A tese<br />
central desta teoria é que todo enunciado é um argumento para uma conclusão (ver<br />
os exemplos acima: são 12 horas vamos almoçar). Segundo a teoria, o sentido de<br />
um enunciado não se limita a sua interpretação literal, a uma informação ou a uma<br />
pergunta ou ordem (são doze horas quer dizer são 12 horas; onde fica o correio? quer<br />
dizer onde fica o correio – e não o colégio etc.). O sentido de um enunciado tem a<br />
ver com a direção para a qual ele aponta (explora-se aqui a ambiguidade da palavra<br />
“sentido”: significado e direção, como em “qual o sentido desta estrada?”, isto é, para<br />
onde ela vai? “Vai no sentido Campinas”).<br />
É como se, quando nos dizem alguma coisa, quase desprezássemos (ou deixássemos<br />
em segundo plano) o que é dito para deter-nos fundamentalmente em descobrir o<br />
que querem nos dizer dizendo o que nos disseram. Por que disseram “são 12 horas?”.<br />
Porque querem dizer que “vamos almoçar”.<br />
Exemplos banais como este mostram que há uma relação entre argumentação<br />
e implícito. É claro que se pode dizer “venha almoçar que já são 12 horas”. Ou<br />
seja, o implícito pode ser explicitado. Mas frequentemente não o é. De certa<br />
forma, faz parte das regras do funcionamento das línguas que o que é sabido<br />
não precisa ser dito de novo (se chamamos um táxi, não precisamos dizer que<br />
o carro deve estar abastecido para viagem e que se espera que haja um taxista<br />
para levar o carro ao destino... com o passageiro dentro dele).<br />
Ducrot demonstrou sua tese (argumentou que sua tese era correta...) analisando<br />
um conjunto de fatos. Centrou suas análises em algumas conjunções, advérbios<br />
e quantificadores.<br />
Por exemplo, mostrou que é a diferença de sentido argumentativo (de direção) que<br />
estabelece a diferença básica entre “pouco” e “um pouco”. Considerem-se duas pessoas<br />
bebendo e que a garrafa de bebida esteja pela metade. Se uma das pessoas diz “tem<br />
<strong>TEXTOS</strong> <strong>DISSERTATIVO</strong>-<strong>ARGUMENTATIVOS</strong>: SUBSÍDIOS PARA QUALIFICAÇÃO DE AVALIADORES<br />
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