TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS
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A informação sobre o superávit é positiva (segundo determinada ideologia ou teoria<br />
econômica). Ou seja: é uma notícia favorável ao governo (segundo a mesma teoria).<br />
A continuação do texto, a partir de “no entanto” (sinônimo de “mas”) introduz uma<br />
avaliação negativa – comparando o superávit de um mês com o mesmo mês do ano<br />
anterior. É um caso em que “no entanto” liga períodos, partes do texto (poderia até<br />
abrir novo parágrafo), e não apenas orações coordenadas.<br />
Vejamos outro exemplo, mais antigo, um caso ainda mais claro de funcionamento<br />
textual/discursivo de “mas”.<br />
A coluna de Fernando Rodrigues (2009) falava do então recente escândalo político.<br />
Considerem-se aspectos dos primeiros três parágrafos, para que o argumento fique<br />
claro: i) “O [Partido C] nasceu de uma costela do [Partido A]” (o parágrafo tem 6 linhas);<br />
ii) “Adversários [do Partido C] pensam de forma diferente” (o parágrafo tem 7 linhas);<br />
iii) “A fórmula [do Partido B] deu certo por muitos anos” (o parágrafo tem 9 linhas).<br />
O quarto parágrafo começa assim: “Mas ninguém engana a todos o tempo todo”<br />
(seguem-se outras 9 linhas). O que isso significa? Como esse “mas” pode ser analisado?<br />
Uma sugestão: “mas” marca a oposição entre dois pontos de vista. Eles podem ser<br />
expostos em duas orações simples, é claro, mas também podem sê-lo em dois longos<br />
trechos. Assim, “mas” é um marcador discursivo. Uma de suas particularidades é que<br />
também pode funcionar – e com o mesmo sentido – em um período com duas orações<br />
simples. Esse é apenas um dos casos, talvez o mais simples de todos.<br />
3. Blocos semânticos<br />
A teoria da semântica argumentativa passa por uma espécie de terceira fase, que<br />
não muda o essencial das teses de Ducrot e Anscombre. A diferença diz respeito a<br />
uma questão de detalhe. Nas fases anteriores, a tese básica era que a primeira parte<br />
de um enunciado (com “mas”, por exemplo) sugeria uma sequência (chuva, então<br />
guarda-chuva).<br />
A diferença nesta terceira fase consiste basicamente em propor que o primeiro enunciado<br />
(ou mesmo uma palavra) forma um bloco com a sequência. Um exemplo de<br />
bloco pode ser “rico, então feliz”. Isto é, propõe-se que a sequência faz parte do próprio<br />
sentido de “rico” (no mundo político antigo, por exemplo, “comunista, portanto ateu”<br />
ou “capitalista, portanto explorador”).<br />
NOTAS SOBRE SEMÂNTICA ARGUMENTATIVA<br />
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