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TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS

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nos textos motivadores com outras três de seu repertório próprio “Bares tiveram<br />

que fechar as portas mais cedo”, “a venda de bebidas passou a ser mais regulada” e<br />

“É até possível encontrar motoristas que dizem que dirigem melhor depois de beber”.<br />

As informações selecionadas, embora não constituam dados exatamente originais e<br />

surpreendentes, revelam o indício de uma autoria porque indicam a reflexão de um<br />

sujeito, que confronta suas experiências com o tema em discussão.<br />

A marca autoral é intensificada, nesse fragmento, pelo modo como se diz. A pergunta<br />

“Como é possível alguém afirmar algo assim quando se sabe dos efeitos do álcool<br />

no corpo?”, que segue o trecho em que sua experiência de escuta é trazida ao texto,<br />

introduz uma interlocução com um leitor hipotético que reforça a existência de sujeito<br />

por detrás desses enunciados. O questionamento, que é a base de toda reflexão,<br />

constrói no texto um diálogo (e um dialogismo) que torna sua argumentação mais<br />

complexa – e, por isso, mais original. Outro aspecto formal que revela indícios de<br />

autoria no texto é a autoconsciência da linguagem presente no trecho “Parece óbvio,<br />

mas é preciso continuar a fiscalização e talvez endurecê-la, pois sempre vai haver quem<br />

não consegue respeitar as leis”. Nesse caso, o autor demonstra estar consciente de que<br />

o que ele vai dizer não é original, mas, ao destacar a obviedade de sua conclusão, ele<br />

acaba por dar força a ela, como se não houvesse outro modo de pensar o problema.<br />

O emprego da expressão “parece óbvio” antecipa a crítica que o leitor pudesse fazer,<br />

mostrando que o autor está plenamente consciente da qualidade das informações<br />

que ele maneja em seu texto, o que indica, embora nem sempre garanta, que há um<br />

projeto de texto por detrás daquela redação.<br />

E é aí que chegamos ao ponto-chave da questão dos indícios de autoria no texto<br />

escolar: a consciência da escrita. A autoria é revelada, na combinação entre forma e<br />

conteúdo, pela existência de um projeto para o texto que determina desde a seleção das<br />

informações até a escolha das palavras, passando pelo modo como elas se arranjam no<br />

texto. Em um texto autoral, cada um dos elementos selecionados para a escrita (fatos,<br />

informações, opiniões, vocabulário, sintaxe) tem como objetivo provocar um efeito<br />

no leitor. Nem sempre esse plano está claro no texto, mais “barca de tolo” que “forma<br />

de bolo”, para retomar a metáfora de Adília Lopes. Por isso, o leitor-caçador que<br />

está em busca de indícios de autoria no texto vai encontrá-los à medida que desvelar<br />

essa autoconsciência e conseguir recompor o chamado “ser de razão” no projeto que<br />

justifica as escolhas de quem escreve, delineando, desse modo, discursivamente, a<br />

figura do autor.<br />

<strong>TEXTOS</strong> <strong>DISSERTATIVO</strong>-<strong>ARGUMENTATIVOS</strong>: SUBSÍDIOS PARA QUALIFICAÇÃO DE AVALIADORES<br />

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