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TEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS

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Anulada a possibilidade de comunicação, esse exercício tradicional da escrita na escola<br />

acaba tomando como objeto de ensino apenas os elementos formais caracterizadores<br />

dos gêneros, sem levar em conta sua funcionalidade. A elaboração temática, que<br />

implica seleção, organização e articulação dos conteúdos, visando à construção de um<br />

texto coerente, sempre é orientada de maneira eficiente e suficiente. O que ganha lugar<br />

privilegiado, nesse processo, são a estrutura composicional e o estilo de linguagem.<br />

Ou seja, o trabalho com a redação escolar valoriza enfaticamente os padrões formais<br />

e não favorece a formação do aluno como sujeito de linguagem capaz de compreender<br />

as circunstâncias de sua enunciação e definir a que gênero de texto recorrer para<br />

dizer o que tem a dizer a seus interlocutores, tendo clareza quanto aos objetivos<br />

comunicativos que pretende alcançar. Esse procedimento, que oblitera a natureza<br />

maleável e plástica da “gramática do discurso”, não dá aos alunos a oportunidade de<br />

aliar ao estilo do gênero o seu próprio estilo, de contrapor à “fôrma” composicional<br />

prescrita seu intento de “confundir deliberadamente” os elementos do gênero que<br />

intenta produzir, para obter determinados efeitos de sentido.<br />

Submetendo a escrita dos alunos a padrões formais inflexíveis e à ausência de uma<br />

perspectiva discursiva, a redação escolar é um gênero que só funciona na escola, para<br />

cumprir objetivos pedagógicos em geral unilaterais: o professor manda, e o aluno<br />

escreve por obrigação.<br />

A endogenia da redação tem relação de reciprocidade com os padrões textuais exercitados<br />

na escola. A descrição, a narração e a dissertação (expositiva e/ou argumentativa)<br />

não são textos empíricos que circulam publicamente no espaço social, a não<br />

ser em concursos de redação ou em provas de seleção para cargos oficiais ou vagas<br />

em universidades. Em outdoors ou revistas, a descrição não aparece como texto<br />

autônomo, constituído exclusivamente desse tipo de organização composicional e que<br />

tenha como único objetivo retratar uma pessoa, um objeto, uma paisagem. Não se<br />

encontram dissertações em jornais ou blogs. O que se vê, com frequência, são colunas<br />

jornalísticas, artigos de opinião, editoriais, reportagens, cujo propósito costuma ser<br />

repercutir uma questão polêmica e discutir sobre ela, buscando convencer os leitores<br />

da posição do enunciador. Esses gêneros não se constituem de uma sequência de<br />

parágrafos expositivo/argumentativos reunidos de modo a compor uma introdução,<br />

um desenvolvimento e uma conclusão nitidamente delimitados. Pelo contrário, eles<br />

podem incluir passagens descritivas e narrativas que se apresentam como provas e<br />

argumentos altamente convincentes, podem, deliberadamente, promover alterações<br />

na ordenação dos componentes e estilo usuais para surpreender, para chocar, para<br />

captar a atenção do leitor, para mascarar seu verdadeiro propósito.<br />

<strong>TEXTOS</strong> <strong>DISSERTATIVO</strong>-<strong>ARGUMENTATIVOS</strong>: SUBSÍDIOS PARA QUALIFICAÇÃO DE AVALIADORES<br />

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