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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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Ainda no Primeiro Sermão, Butler se pergunta <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provém a prática do mal<br />

contra os outros e, adicionalmente, contra si próprio. A seu ver, em que pese a presença do<br />

mal no mundo, não existe propriamente amor pela injustiça, a opressão, a traição ou a<br />

ingratidão. Ocorre que, na busca <strong>de</strong> tais ou quais bens exteriores, <strong>de</strong>sejados com ansieda<strong>de</strong>, o<br />

homem per<strong>de</strong> o senso da medida. Os princípios e paixões, que se distinguem, como vimos,<br />

tanto da benevolência como do amor próprio, primeiro e mais diretamente levam ao<br />

comportamento a<strong>de</strong>quado em relação aos outros e a si mesmos, e só secundária e<br />

aci<strong>de</strong>ntalmente para o que é mau. Observa-se que, para escapar da vergonha <strong>de</strong> um ato vil, os<br />

homens sejam às vezes culpados <strong>de</strong> coisas piores. Contudo, a tendência original da vergonha<br />

é prevenir ações vergonhosas e não estimulá-las. Há certamente no mundo pessoas sem<br />

afeições naturais por seus semelhantes do mesmo modo que sem afeições naturais e comuns<br />

para consigo mesmo. Ainda assim, <strong>de</strong>staca, "natureza do homem não é para ser julgada por<br />

alguns <strong>de</strong>les mas pelo que aparece no mundo comum, no conjunto da humanida<strong>de</strong>".<br />

Butler exalta a noção <strong>de</strong> justo meio, naturalmente sem referir Aristóteles, que era<br />

então, pessoa execrada nos círculos culturais ingleses – posto que aparecendo como<br />

indissoluvelmente ligado a Escolástica , segundo se po<strong>de</strong> ver do trecho adiante:<br />

“Proceda-se a um exame da humanida<strong>de</strong>: o mundo em geral, os bons e os maus,<br />

todos sem exceção estão <strong>de</strong> acordo em que, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado a religião, a felicida<strong>de</strong> da vida<br />

presente consistiria inteiramente na riqueza, honra, satisfações sensuais, tanto assim que<br />

raramente se ouve uma reflexão acerca da prudência, da vida ou da conduta, a não ser baseada<br />

nessa suposição. Mas muito pelo contrário, há pessoas que na maior afluência da fortuna não<br />

estão mais felizes do que se tivessem apenas o suficiente; cujas preocupações e os dissabores<br />

da ambição, na maior parte dos casos, exce<strong>de</strong>m as satisfações auferidas como também os<br />

miseráveis intervalos <strong>de</strong> intemperança e excesso e as muitas mortes prematuras ocasionadas<br />

por uma vida dissoluta; estas coisas são vistas e entendidas por todos, reconhecidas por toda<br />

gente; mas não são consi<strong>de</strong>radas objeções, ainda que expressamente o contradigam, contra<br />

este princípio universal <strong>de</strong> que a felicida<strong>de</strong> da vida presente consiste numa ou noutra. De on<strong>de</strong><br />

provêm todos estes absurdos e contradições? Não é óbvio o termo médio? Po<strong>de</strong> algo ser mais<br />

manifesto que a felicida<strong>de</strong> da vida consiste na posse e gozo apenas numa certa medida; <strong>de</strong> que<br />

persegui-la além <strong>de</strong>ssa medida é tido sempre como mais inconveniente do que vantajoso para<br />

o próprio homem e muitas vezes com extrema miséria e infelicida<strong>de</strong>”.<br />

O Segundo e Terceiro Sermões .correspon<strong>de</strong>m a aprofundamento dos temas<br />

propostos. Assim, no que se refere à inexistência <strong>de</strong> maior concordância quanto ao que seja o<br />

mo<strong>de</strong>lo interior do homem, parece a Butler que isto ocorre ao tornar-se algo <strong>de</strong> episódico ou<br />

peculiar a <strong>de</strong>terminado temperamento – ou mesmo o simples efeito <strong>de</strong> certos costumes<br />

particulares – como sendo princípios mais altos. Apesar disto, é imprescindível mostrar esses<br />

princípios aos homens, a fim <strong>de</strong> que se tornem capazes <strong>de</strong> reconhecê-los. A<strong>de</strong>mais, “as<br />

indicadas obrigações <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s e dos motivos que forçam a sua prática, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> um<br />

exame da natureza humana, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados como um apelo dirigido ao coração e à<br />

consciência natural <strong>de</strong> cada pessoa particular, como os sentidos externos são instados a atestar<br />

as coisas por eles cognoscíveis”.<br />

Trata também <strong>de</strong> esclarecer qual possa ser o sentido profundo da indicação <strong>de</strong> que<br />

o homem <strong>de</strong>ve seguir a sua natureza. Mais uma vez ressuscita-se aqui a clássica questão <strong>de</strong><br />

saber-se se o homem não terá sido feito também para o mal, porquanto o faz seguindo aos<br />

seus instintos. Depois <strong>de</strong> insistir em que se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> natureza em diversos sentidos,<br />

estabelece que o princípio da consciência, que <strong>de</strong>clara algumas ações como justas e outras<br />

como erradas e injustas, não correspon<strong>de</strong> a um princípio qualquer, igual aos outros, mas ao<br />

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