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Tratado de Ética - Instituto de Humanidades

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O código judaico-cristão comporta pois uma interpretação racional que está longe<br />

<strong>de</strong> empobrecê-lo. Ao contrário, essa interpretação <strong>de</strong>ve ser entendida como um compromisso<br />

do segmento laico <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong> com a recuperação dos elementos perenes da cultura<br />

oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Resta acrescentar que o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> pessoa humana preservado através do código<br />

combinou-se indiferentemente com a exaltação da pobreza ou da riqueza.<br />

Na tradição católica, só muito recentemente abandonada, a pobreza encarnava o<br />

ser moral por excelência. Dizia-se ser mais fácil passar um calabre pelo fundo <strong>de</strong> uma agulha<br />

que entrar um rico no reino dos céus. Contemporaneamente, os católicos parecem<br />

empenhados em eliminar da socieda<strong>de</strong> o estado <strong>de</strong> pobreza material, sem que tenham<br />

explicitado as implicações da mudança no que tange ao que se supunha fosse a essência da<br />

religião, isto é, a vida eterna. Ainda assim, tanto num ciclo como no outro, preserva-se o<br />

Decálogo, com as alterações da versão original apresentada nos comentários anteriores.<br />

Como se sabe, as seitas puritanas, na Época Mo<strong>de</strong>rna, acabariam enxergando na<br />

riqueza um indício <strong>de</strong> salvação. No particular, situaram-se no extremo oposto da que era então<br />

a posição oficial da Igreja Católica. Contudo, semelhante mudança não alterou o<br />

entendimento dos preceitos morais ensinados por Moisés e Jesus.<br />

Segue-se a indicação das idéias que configuram o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> pessoa humana.<br />

Tanto o termo idéia como i<strong>de</strong>al são tomados no sentido kantiano.<br />

As idéias não apenas não <strong>de</strong>rivam dos sentidos como não po<strong>de</strong>m ser encontradas<br />

na experiência. Não se <strong>de</strong>stinam a organizar a experiência científica mas se constituem em<br />

i<strong>de</strong>ais.<br />

As idéias que configuram o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> pessoa humana não <strong>de</strong>rivam todas do código<br />

judaico-cristão. Neste po<strong>de</strong>m ser encontradas as seguintes:<br />

Perfeição<br />

Refletindo o que seria a reação natural <strong>de</strong> um católico, o pensador paraense<br />

Roberto Santos formulou esta objeção ao fato <strong>de</strong> que tenhamos aproximado as idéias <strong>de</strong> Deus<br />

e <strong>de</strong> perfeição, seguindo a Descartes: "Para o crente, Deus nada tem a ver com o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

perfeição porquanto o concebe como uma pessoa inteligente, racional e, além <strong>de</strong> tudo, viva".<br />

Ao dizer-se que o mandamento moral, válido para todos, aponta no sentido da<br />

busca da virtu<strong>de</strong>, não se preten<strong>de</strong> esvaziar <strong>de</strong> sentido religioso o texto bíblico. A concepção<br />

que o homem fará <strong>de</strong> seu Deus há <strong>de</strong> variar segundo as religiões e para tais concepções o<br />

tribunal da razão nunca será a última instância. A sabedoria popular, ao consagrar o princípio<br />

<strong>de</strong> que "religião não se discute", quis certamente chamar a atenção para a circunstância <strong>de</strong> que<br />

a escolha <strong>de</strong> uma religião não obe<strong>de</strong>ce a procedimentos exclusivamente racionais. As regras<br />

morais, contudo, <strong>de</strong>vem passar essa prova. Assim, ao aproximar a idéia <strong>de</strong> Deus do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

perfeição os racionalistas da Época Mo<strong>de</strong>rna preten<strong>de</strong>ram salvar os princípios consagrados da<br />

moral oci<strong>de</strong>ntal, sem os quais, parecia-lhes, seria impossível a convivência social, quando a<br />

cisão entre católicos e protestantes conduzia a abismo intransponível. Precisamente essa<br />

preocupação iria levar à <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> pessoa humana correspon<strong>de</strong> ao núcleo<br />

daquela moral – e compreen<strong>de</strong> um compromisso radical com a virtu<strong>de</strong>, isto é, com a busca da<br />

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