Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
Tratado de Ética - Instituto de Humanidades
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
a) Indicações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m geral<br />
Em relação a esse aspecto da meditação aristotélica, foram preservados três livros:<br />
<strong>Ética</strong> a Eudêmono, <strong>Ética</strong> a Nicômaco e Gran<strong>de</strong> <strong>Ética</strong>.<br />
Eudêmono era um dos discípulos <strong>de</strong> Aristóteles. Durante o século passado, os<br />
estudiosos chegaram a consi<strong>de</strong>rar o texto que leva seu nome como apócrifo. Outros<br />
atribuíram-no ao próprio Eudêmono. A questão parece ter sido solucionada <strong>de</strong> forma<br />
<strong>de</strong>finitiva na obra que Werner Jaeger <strong>de</strong>dicou a Aristóteles, (1) na qual fundamenta a seguinte<br />
hipótese: a <strong>Ética</strong> a Eudêmono é a primeira das obras em que Aristóteles se ocupa do tema,<br />
quando ainda não havia <strong>de</strong>senvolvido a própria posição e refletia a influência platônica,<br />
enquanto a <strong>Ética</strong> a Nicômaco (Nicômaco era filho <strong>de</strong> Aristóteles) correspon<strong>de</strong> à sua<br />
elaboração autônoma. Na opinião <strong>de</strong> Jaeger, a Gran<strong>de</strong> <strong>Ética</strong> consiste numa coletânea que<br />
procura fundir as duas obras anteriores, organizada após a sua morte. Essa opinião parece hoje<br />
aceita sem contestação, po<strong>de</strong>ndo-se afirmar que a doutrina aristotélica encontra-se na <strong>Ética</strong> a<br />
Nicômaco.<br />
A melhor edição da <strong>Ética</strong> a Nicômaco é <strong>de</strong>vida a René Antoine Gauthier<br />
(Louvain, Publications Universitaires, 2ª ed., 1970, 4 volumes). Além <strong>de</strong> uma introdução, em<br />
que estuda as questões relacionadas ao texto – inclusive as alterações <strong>de</strong> caráter histórico na<br />
interpretação dos principais conceitos –, e <strong>de</strong> dois volumes <strong>de</strong> comentários, a reconstituição<br />
do próprio texto (Tomo I, vol. 2) é verda<strong>de</strong>iramente exemplar. Nessa versão <strong>de</strong>saparecem<br />
muitas das obscurida<strong>de</strong>s que as outras preservam. Assim, por exemplo, nas traduções que<br />
circulam no Brasil, (2) seus autores, Valandro e Kury, adotam a expressão meio termo quando o<br />
que Aristóteles tem em vista, na perspicaz observação <strong>de</strong> Gauthier, é o justo meio, isto é, o<br />
encontro <strong>de</strong> uma posição equilibrada na ação e não um simples “meio termo”. Kury também<br />
traduz areté por excelência moral, o que não parece ter sido uma escolha feliz. Aristóteles<br />
distingue areté ética, dizendo respeito ao caráter, que habitualmente (inclusive Gauthier) se<br />
traduz como virtu<strong>de</strong> moral e areté dianoética, referente à reflexão e à prudência, traduzida por<br />
Gauthier como virtu<strong>de</strong> intelectual. Além do mais, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecer que o termo<br />
consagrado é virtu<strong>de</strong> (notadamente na sua oposição ao vício), parecendo <strong>de</strong>scabida a tentativa<br />
<strong>de</strong> inovar pelo simples gosto <strong>de</strong> fazê-lo, sem razão aparente que o justifique.<br />
A <strong>Ética</strong> a Nicômaco compõe-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>z livros, em geral publicados sem títulos.<br />
Gauthier, afora o <strong>de</strong>smembramento que operou no Livro I, adiante mencionado, agrupou-os<br />
<strong>de</strong> forma temática. Os Livros II e III, este até o capítulo 8, tratam da virtu<strong>de</strong> moral em geral e<br />
os Livros III (a partir do capítulo 9) ao V das virtu<strong>de</strong>s morais em particular. O Livro VI versa<br />
sobre as virtu<strong>de</strong>s intelectuais; o Livro VII, sobre a continência e a incontinência; os Livros<br />
VIII e IX sobre a amiza<strong>de</strong>; o X em parte (até o cap. 5) o prazer e em parte (6 a 9) a<br />
contemplação. O capítulo 10 do Livro X consi<strong>de</strong>ra-o uma introdução à Política.<br />
Para Aristóteles, a ética é uma das ciências práticas, isto é, relacionadas à ação,<br />
sendo as <strong>de</strong>mais a política e a econômica. Nessa subdivisão a ética aparece com o nome <strong>de</strong><br />
sabedoria. No Livro I da <strong>Ética</strong> a Nicômaco dá proeminência à política que está <strong>de</strong>finida, nos<br />
(1) Werner Jaeger – Aristóteles – bases para a história <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento intelectual (1923), tradução<br />
espanhola. México, Fondo <strong>de</strong> Cultura, 1ª ed., 1946.<br />
(2) A primeira versão é <strong>de</strong> Leonel Valandro, na qual Gerd Bornheim fez uma revisão, forma pela qual foi inserida<br />
na coleção Os Pensadores; e a segunda, <strong>de</strong> Mario da Gama Kury (UnB, 1985), com base no original grego<br />
estabelecido por Bekker, na famosa edição patrocinada pela real Aca<strong>de</strong>mia da Prússia. A antece<strong>de</strong>nte louva-se da<br />
versão inglesa <strong>de</strong> W. D. Ross.<br />
71